domingo, abril 16, 2006

Uma sexta-feira santa

Encontrei a avó para seu aniversário de 69 anos numa sexta-feira da paixão. Com as faces bem rosadas e sempre risonha, sorriu para mim o grande sorriso que há tanto esperava ver. Estava feliz, estávamos todos, mamãe, as tias e primos.
Ficou preocupada com a minha garganta, mais uma vez, muito inflamada. Fiquei sentido de dar-lhe mais essa preocupação e menti, dizendo que já estava muito melhor e mais bem disposto, do que ganhei um olhar de reprovação da minha mãe, mas vovó sabia que estava falando para agradá-la e sorriu de novo.
Dei-lhe de presente uma lembrança de Araxá, que tinha visitado há umas semanas, um carro-de-bois pequenino, 13cm de altura por 25cm de comprimento, idêntico ao que está no quintal da casa de dona Beja, com as rodas com pregas e o engate da gangalha, tudo bonitinho como manda a tradição. Ela gostou, mas acho que meus priminhos que moram lá perto dela vão destroçar o mimo rapidamente, uns diabinhos, mas não muito piores do que os netos mais velhos à sua época. Meu avó gostou do presente disse que já tinha tido um, achei que era brincadeira, mas vi que ele examinava com muito cuidado a pequena réplica. Da parte da minha avó, foi bom presente, mais que a pecinha simples em si, ela curtiu mesmo que tivesse me lembrado dela, mas como não? Disse que era para ela não esquecer de mim e também ela disse o seu "como não?".
Almoçamos e eu brinquei com a minha tia que espera o primeiro filhinho. A vovó tinha feito questão que levasse Aparecida no nome se fosse mulher, assim como levou no nome a minha tia, mas para sua decepção vai nascer um meninão, segundo o exame de ultrassom, será batizado Bruno, segundo a vontade da mãe. Vovó riu de novo. Foi pena que já não aguentava ficar lá entre eles, depois do almoço a febre bateu forte e fui me deitar, dormi umas horinhas.
Que loucos são os sonhos que se tem depois do almoço, mas não suspeitava que eram ainda mais delirantes quando se está com febre! Tão loucos que não valem o registro, basta mencinar que havia bezerrinhos pequenos, vinho caseiro, mamadeiras e banquete com bacalhou à Gomes Sá.
Acordei duas horas depois, achando muita graça daquela bobagem toda. Minha mãe já se preparava para ir, nem tive tempo de conversar com minha avó, mas tive a impressão de que iria revê-la logo, será?
Apanhei umas frutas de seu pomar para a medicina caseira contra sinusite e amidalite, não custava nada tentar, afinal fazia seu gosto também. Os priminhos foram ajudar a colher.
Já ardia menos a garganta, a respiração era livre e a testa nem estava quente quando acenei no carro para ela e desejei feliz aniversário antes de partir e foi ali que ela sorriu desta nova última vez.