domingo, fevereiro 17, 2008

Leãozinho

Chrisa de Jaime Valero Perandones, National Portrait Gallery, Londres


Ardem os olhos, avisa o corpo que basta, que é preciso dormir mais, que é preciso querer menos, que para ele não é preciso, mas o coração não quer saber dessas estórias e segue sempre inflexível nas suas ordens.


Encontra beleza nessas doces manhãs de sol e frio que a capital tem tido no início do ano e anima-se com a primeira brisa fria inspirada da saída da estação: viva a vida.


Começos e finais, horas a passar. Tamborilar de dedos, pensamentos a bater estupidamente sem nenhum retorno, reconhecimento do absurso e pior, secreto anseio da realização do absurdo. Irrepreensível amor à beleza e um ingênuo fascínio pela doçura dos sorrisos recebidos.


Esforços dedicados, telefonemas que ficaram por serem feitos, palavras que morreram no meio termo das intenções. Frustrações e alguns acertos.


Mas existes. Trazes contigo esperança, bolinhos para um piquenique e montes de olhares docinhos e beijos de amor.


Existes assim na inteireza de alma, nos teus sonhos secretos, nas tuas fantasias românticas, nas pequenas e gentis palavras que comunicam teu nome. Existes em mim.


Como os pássaros que planam calados para manchar o céu sem muitas outras pretensões, impõe-te ao horizonte diante dos meus olhos, estás à minha frente, pedes para comer do meu corpo e parar beber do meu sangue, pedes para vestir minha pele e para ver com meus olhos e eu, miseravelmente, dou tudo que tenho.


Calmamente tenho a marca dos meus sorrisos no rosto e percebo o esmorecer da cor dos meus olhos. Este impulso de vida que gasto com tanto prazer serve-me melhor à realização do delírio que o amor propõe através de ti e que tão orgulhosamente eu aceitei sem exitar.


Dá o teu abraço, pequenina! Agarra-te a mim e não me deixes ir antes de tomar um café fresco e predizer como será amanhã, das cores que virão do céu e do cheiro apaixonante a desprender-se da nossa pele.


Como os navios nos portos silenciosos eu vejo assentar-se a madrugada e do segredo da minha solidão insuspeitada, queima incondicionalmente o meu coração.