Recordo-me de outros Agostos que surgiram impercebidos na minha vida para depois tornarem-se meses a recordar.
Quis que este Agosto fosse um mês pleno de momentos de descanso, sem preocupações, onde pudesse recompor o espírito e verter aqui novas esperanças, mas não foi assim e nem poderia ser. A cumprir obrigações é que se aprende que cá estamos é para servir e não para nos servir.
Não quero chatear ninguém com essas queixas, antes, pelo contrário, convidar a vir comigo pela vereda do sentido que há em querer descansar.
Penso numa pessoa que faz uma hora de corrida todos os dias na esperança de emagrecer, mas na verdade não perde peso porque ignora que o exercício cardiovascular desacompanhado de exercícios de resistência física de pouco valem.
Da mesma forma, estar de férias, mas ao mesmo tempo sob preocupações e constrangimentos, não leva ao resultado pretendido, que no caso é descansar.
Em um e noutro caso, estiveram a transpirar por pouco ou nada.
Guardo assim, deste meu Agosto de 2012 que não vai nunca mais voltar, uma saudade de algo que não cheguei a ter, como a de um amigo que na verdade nunca cheguei a conhecer.
Imagino que assim, no meu sonho, possa recordá-lo risonho e quente, cheio dos momentos felizes que nós esperamos ter no mês de férias.
Resta a mim aqui defender o verdadeiro Agosto - não vale a pena ser injusto. Não foi em realidade um mês assim passado a pão e água, em algum canto escuro e húmido... Houve nesse mês muito encanto em doses contidas. Foram tantos quases bonitos que quase se compunha um só inteiro! Procurei sempre ocupar o tempo com coisas úteis e boas e valeu-me alguma leitura que eu ali a brutos murros tentei defender dos que pretendiam levar-me a outros caminhos, não exatamente piores, mas talvez para mim, naquele momento, menos convidativos. E como todos sabem, por cortesia, não se deve negar os bem intencionados convites dos que nos querem bem. E lá ia eu com o sorriso triste dos que são forçados, sem encontrar naquilo nem o sentido e nem as pessoas verdadeiramente... Na verdade, estive, muitas vezes, à espera de gente e de encontros que simplesmente escaparam completamente, o que também deixou-me receoso de não encontrar neste mês mais contentamento.
Já há muito tempo acompanha-me o pensamento do chamado "verão do ano que vem", do qual acho que já falei aqui. Por vezes quero planeá-lo, tê-lo em perspectiva e um dia vivê-lo sem constrangimento algum.
Imagino um Agosto em que possa finalmente ir ver um jogo do Vasco da Gama, em que a praia não me fuja pelos dedos e fique apenas o cheiro, quando esteja a ler sem ter gente a chatear a cada cinco minutos, que não tenha que atender e nem fazer telefonemas e nem ligar computadores e nem estar a escrever disparates.
Ai, Agosto do meu sonho, o mês em que eu canto a mim próprio como o de alguma liberdade e gozo. Onde foste, lindo menino? Por que rua, por que avenida triste, cinza e ampla te foste conduzir para longe de mim?
Que não seja longa a espera e que antes que o sinta possa ter de novo a chance de fazer bem, de viver o mês das férias verdadeiramente.