Aprendi, caros leitores, mais alguns bons conceitos, leis e dimensões dos respectivos regimes no meu primeiro ano do curso de doutoramento. Aprendi, sobretudo, a brutal diferença desses estudos para os de mestrado. Não no sentido académico, que por si só também é diferente - no doutoramento há mais responsabilidade com a qualidade dos escritos, há mais profundidade no pensamento (tendencialmente) - refiro-me às condições da vida deste escritor.
Entreguei no fim do mês os meus dois relatórios finais às cadeiras que frequentei como se tirasse de cima dos ombros o peso dos majestosos himalaias. Tamanha carga ganhou peso e volume por conta das outras obrigações da vida que no contrário do tempo do mestrado ainda não haviam. Por agora, foram todas as obrigações juntas - profissionais, académicas e sociais - do que por vezes vi-me literalmente sem saída com relação ao tempo que tinha para dedicar a cada atividade, permanentemente à expectativa de não conseguir fazer tudo bem, como é a norma para esses balabarismos das atividades.
Como antes, todavia, tive muito gosto em estudar, pesquisar e escrever. Sinto viva alegria em aprender, porque acredito que assim alargo os horizontes da minha vida e da minha compreensão. No aspecto da ciência do direito, sinto que torno-me um profissional mais útil aos que vão se servir dos meus serviços, assim como credencio-me a ter opinião em matérias que antes estavam fora do meu conhecimento.
Mas não pensem que não custa. Sempre custa aprender. Não refiro-me às propinas - que para uma universidade pública como é a Universidade de Coimbra, estão nos seus máximos históricos a tirar muita gente do ensino superior por carência económica - falo antes da própria condição de querer aprender, de saber ouvir os que sabem mais que nós, de humildemente apanhar nos livros e ler e ler e ler à procura do famoso conhecimento e depois de tanto lutar para alcançá-lo, saber levar na cabeça os equívocos de não ter feito a jornada na perfeição - eis a fama verdadeira da nossa faculdade de direito que eu muito agradeço, pois desafia-me sempre a ser melhor, mas que também inclui-se no sofrimento da aprendizagem.
Aprendi muito, estou contente (agora que já passou toda a aflição!), mas acho que a melhor lição foi recordar da necessidade de aprender sempre, de ser curioso e corajoso para romper os limites que por vezes nós mesmos levantamos diante do nosso potencial e que trava os sonhos que temos para a nossa visão da vida. Por vezes, não se trata de fazer um curso, mas de querer refletir sobre o que vai mal e ter coragem para escutar quem sabe mais do que nós, de dedicar-se ao estudo informal de qualquer matéria para poder fazer um trabalho melhor, sobretudo, de não se esconder no saber que já se tem por medo de ficar surpreendido com o conhecimento que está além, com o desconforto que poderá trazer, com o novo eu que ele trará consigo.
Não tenhas medo, leitor. Lembra que o medo procura o que há de mau em ti para prevalecer - as inseguranças, o receio, a preguiça até - antes escuta o que há de bom - a curiosidade, o sonho, o encantamento pelo novo e pelas surpresas, e avança com coragem rumo a saber mais e a tornar-te melhor.
Quanto mais souberes, menos temerás, ao menos assim me parece. Portanto, apanha naquele desejo de estudar francês a sério, ou de aprender sobre apicultura ou costura, não importa o tema desde que importe a ti, e mãos aos livros. Não poderás estar em melhor companhia.