domingo, janeiro 29, 2006

Moral da originalidade

Fui a Conselheiro Lafaeite por razões profissionais na semana passada. Ao clamor de um prezado nosso cliente de que o inventário de partilha de sua mulher estava a arrastar-se demais, resolvemos que era preciso falar diretamente com o senhor juiz da 4ª Vara Cível daquela comarca.
Ao providenciar o recolhimento das custas para expedição do formal de partilha, providência da prache processual para o caso de terminar um processo de inventário, onde reparte-se uma herança.
O belo fórum da cidade, já agora envelhecido e prestes a ser substituído por uma sede mais moderna, foi palco de um inesperado reencontro. Ninguém mais que um velho colega de Juiz de Fora, e com qual surpresa não reconheci aquela sua figura no corredor do velho edifício! Márcio Motta, a quem Roberto certa vez deu um apelido um tanto quanto engraçado, mas que vou omitir, por respeito.
Tinha então terminado a faculdade de direito e, não optando por uma carteira, fazia uso dos conhecimentos que encerravam o título seu de bacharel em direito, como funcionário da 3ª Vara Cível daquela comarca.
Cumprimentei e convidei para ir aos copos depois do trabalho, mas lembrei que teria de voltar a Belo Horizonte. Ficamos a falar no corredor por algo como 20 minutos. Falei do início da vida profissional, já o meu antigo colega falou da sua nova cidade, do incerto futuro profissional, visto que as medidas do Conselho Nacional de Justiça já entrariam logo em vigor e os funcionários do Tribunal de Justiça que não fossem concursados seriam todos exonerados, o que seria provavelmente o seu caso. Nessa hora fiquei mesmo algo preocupado por ele, tinha a testa plena de tensão, como ele mesmo ao demonstrar pena de si mesmo com o gesto. Sua vaidade era quase divertida.
Enfim falamos de nossa vida em Juiz de Fora: nossos amigos comuns e nossas competições. Mesmo após 5 anos, ele guardou intactas sua inveja e o seu rancor e logo a felicidade de rever um rosto conhecido de Juiz de Fora foi substituída pela decepção e pelo desprezo por ele.
Logo procurei me culpar por julgá-lo... mas independente de como os outros agem, já não suporto inveja ou rancor, que se querem ter algum vício, que procurem um menos destrutivo.
Todo o resto do dia andei advogando pela causa de encerrar o processo de inventário, no que tive sucesso e retornei a Belo Horizonte com o formal de partilha e minha sentença contra o velho colega. A minha moral pede sempre originalidade.