sexta-feira, julho 20, 2007

Legado de liberdade

A inundacao do metro de Londres essa manha deu-me oportunidade, para alem do esperado aborrecimento, para ir visitar o momumento ao Principe Albert no Hyde Park e afinal lembrar um tanto daquele homem que passou a vida como o marido de uma imperatriz, sem ser muito mais que isso. Nao que seja pouca coisa... nem por isso! Mas afinal, a Rainha Victoria nao foi uma mulher de temperamento facil, sabe-se ate' que nao aturava ninguem que a contrariasse nas minimas coisas, era mandona e muito rigida nas vontades, uma verdadeira soberana. Assim restou ao principe, seu esposo, figurar-lhe na vida, ser o acessorio indispensavel a foto oficial, sem entretanto participar ativamente daquilo, o tempo mais grandioso de toda a historia britanica.
O momumento em sua homenagem faz realmente uma bela figura, com o perdao do trocadilho, a justificar um grande amor, bela em toda sua grandeza, reluzente e viva. Logo em frente vem o grande anfiteatro, belo e majestoso.
A Rainha Victoria encheu Londres de belos monumentos, logo em frente ao Palacio de Buckingham ha' mesmo um monumento em honra a ela mesma que e' fantastico, mas a mim o mais belo e' este ao principe Albert, o mais significativo tanto mais porque a estatua dele e' dourada e reluz como o ouro, afinal deve ter sido um marido de ouro ou algo assim para justificar a homenagem, ou afinal ja' nao havia mais argumentos para o proximo monumento e num estalo alguem lembrou-se: 'claro, ainda temos o Principe Albert!'.
'A parte desses questionamentos menos interessantes, vejo como deve ser dificil ser principe de outro reino, como devem nascer no coracao duvidas, como devem nos corroer incertezas, como deve custar caro tanta tramoia... Levantar o cetro a dominio sem nenhum valor e aceitar homenagens que nao sao de modo algum devidas por ser afinal parte do cerimonial e ir levando comendas ao corpo e coroas na cabeca e ir a festas e sorrir a toda gente e nisso tudo nao haver nada de real para si, em nao realizar-se em nada disso, que pobre vida, que privacao corvarde que se escolhe para si!
Lembro-me assim do nosso Imperador Pedro I, que abdicou da coroa para o filhinho de 5 anos, que deixou para nunca mais ver, e que embrenhou-se numa luta sem certezas para garantir o trono portugues para a filha. Venceu mais pela forca do coracao e pelo amor que o povo que tinha do que por qualquer outra coisa, tao valente e corajoso o nosso Pedro que pouco mais de dez anos antes tinha nos dado independencia e contrariado amplamente o interesse de seu pais de origem.
Talvez diga-se que afinal tava a garantir a coroa para os filhos, que nisso nao havia amor nem ao Brasil nem a Portugal, mas acho que para alem desse imediatismo havia um homem que acreditava nos seus ideais e no valor da coroa que trazia sobre sua cabeca, um combatente honrado, um homem de temperamento forte e aventureiro, eis a marca dele sobre o nosso imaginario: antes de tudo, foi senhor de seu proprio coracao.
Nao me lembro de haver muitos monumentos em honra ao nosso Pedro I, na verdade ha' um muito belo no Rio de Janeiro, perto da Palacio da Boa Vista, mas pronto... nada se comparado ao Memorial ao Principe Albert. A diferenca e' mesmo que nao e' preciso monumento nenhum, por mais reluzente que fosse, para que lembrassemos de sua presenca e de seu legado.

quinta-feira, julho 12, 2007

A canção do amor demais

Assombra por vezes o aspecto que toma o ceu de um instante para o outro. Por vezes, mansamente azul, ja depois nublado de branco, cinza e negro.
Ventou assim numa tarde depois que cheguei de volta a Londres, estava no Queens Park, numa inscurcao para matar saudades e entao, como que de repente, a bela tarde de sol tornou-se num pressagio de diluvio e toda gente que la estava despreocupada, a dar de comer aos esquilos e a ver os filhos jogarem futebol, aos pobres namorados que enfim podiam partilhar um momento juntos, os velhos que ja' andavam cansados de ficar em casa, toda essa gente (tambem o antigo morador que veio matar saudades) foi obrigada a correr-se de la' e assim, vazio de gente, respirou o parque uma solidao muito curiosa, que eu vi so' de longe, mas que pareceu belissima.
Apartado e quieto, nao ficou lado outro sem sonoridade, de si para consigo, falava la' sua lingua, conversava o vento com as arvores, e e' bem capaz que os esquilos entre si tambem estivessem a dizer alguma coisa, uma harmonia que para nos visitantes pode parecer tao distante, mas que a intimidade conhece bem e talvez por isso nao se ressinta da falta dos que vem a passear, mesmo que o parque exista para eles, mesmo que com eles e' que ele seja mesmo parque, com si para consigo ele e' belo, ele compreende-se.
Por vezes eu o visitava para que pudesse perceber algo disso, para ter dele algum conselho talvez, mas nunca tive resposta.
Curiosamente naquela tarde em que me corri de la e depois olhei para tras eu percebi quao belas sao as arvores ao vento, quanto de amor ha' no cheiro daquelas flores e que ceu lindo ha' por cima, mesmo quando tudo e' nublado... o que e' verdadeiro e belo sempre permanece.