quinta-feira, julho 12, 2007

A canção do amor demais

Assombra por vezes o aspecto que toma o ceu de um instante para o outro. Por vezes, mansamente azul, ja depois nublado de branco, cinza e negro.
Ventou assim numa tarde depois que cheguei de volta a Londres, estava no Queens Park, numa inscurcao para matar saudades e entao, como que de repente, a bela tarde de sol tornou-se num pressagio de diluvio e toda gente que la estava despreocupada, a dar de comer aos esquilos e a ver os filhos jogarem futebol, aos pobres namorados que enfim podiam partilhar um momento juntos, os velhos que ja' andavam cansados de ficar em casa, toda essa gente (tambem o antigo morador que veio matar saudades) foi obrigada a correr-se de la' e assim, vazio de gente, respirou o parque uma solidao muito curiosa, que eu vi so' de longe, mas que pareceu belissima.
Apartado e quieto, nao ficou lado outro sem sonoridade, de si para consigo, falava la' sua lingua, conversava o vento com as arvores, e e' bem capaz que os esquilos entre si tambem estivessem a dizer alguma coisa, uma harmonia que para nos visitantes pode parecer tao distante, mas que a intimidade conhece bem e talvez por isso nao se ressinta da falta dos que vem a passear, mesmo que o parque exista para eles, mesmo que com eles e' que ele seja mesmo parque, com si para consigo ele e' belo, ele compreende-se.
Por vezes eu o visitava para que pudesse perceber algo disso, para ter dele algum conselho talvez, mas nunca tive resposta.
Curiosamente naquela tarde em que me corri de la e depois olhei para tras eu percebi quao belas sao as arvores ao vento, quanto de amor ha' no cheiro daquelas flores e que ceu lindo ha' por cima, mesmo quando tudo e' nublado... o que e' verdadeiro e belo sempre permanece.