domingo, setembro 30, 2012

No fim da tarde a brisa conta mais histórias

Recebi hoje um convite de casamento de um amigo querido, completamente apaixonado por uma baiana já há mais de 3 anos.
As linhas poucas falaram-me ao coração sem que nelas houvesse sentimentalismos tolos. Falou-me naquela linguagem que nós usávamos nos tempos da nossa adolescência.
Ele e eu estivemos a trabalhar juntos em muitos projetos dos clubes em que participamos, nem sempre a concordar, aliás, com bastante discordâncias - todas elas cheias de respeito um pelo outro e tendo em conta o bem da equipa. Aliado a isso, muita amizade, muito convívio, muito riso e muito choro partilhado naqueles anos que eu aprendi a recordar como os mais marcantes da minha vida. Assim crescemos.
É curioso que no ano passado, exatamente por essa mesma época, casava-se outro grande amigo, este mais próximo de mim e assim, fui atravessar o oceano imenso para participar das cerimónias e dar-lhe o meu abraço amigo e revê-lo e vê-lo feliz - para mim o maior presente. 
É estranho como algumas pessoas entranham-se na nossa alma e nada e nem ninguém os pode tirar de lá.
Dou-me conta disso como se ouvisse histórias desses tempos contadas na brisa de um outono que se anuncia com confiança - já arrefece mais no fim das tardes!
Contam-me de um sonho intenso, de uns rapazitos com o emblema no peito a acharem-se grandes capitães do futuro, a mandar e a obedecer com dedicação e fé no que faziam. Este amálgama de propósito e confiança uniu-nos de uma forma que até hoje espanta-me um pouco. 
Conheço-os tão bem que era capaz de qualquer coisa por eles e não tenho razões para duvidar da recíproca.
Como sou bom amigo, dos novos, velhos e desconhecidos amigos, vou dividir consigo, caro leitor, uma dessas histórias.
 Era este vosso escritor apenas um adolescente, quase adulto, que queria fazer valer o potencial de uma frágil instituição que por capricho das circunstâncias calhou-lhe liderar sem amarras. Essa observação final é muito importante, pois não era balizado por tutores alguns, não tinha acima da minha cabeça a batuta de ninguém, senão o olhar atento do Nosso Senhor. 
Pois bem, isso calha bem a um rapaz ambicioso como eu era, mas faltava-me a motivação para levar aquilo à frente. Aos que tinham vindo antes de mim houvera apenas a obrigação de fazer, mas eu não queria esse motivo, sabia que tinha que existir algo a mais, senão não seria possível.
Então dei-me conta que se apelasse para a razão mais simples das coisas isso faria com que os outros também percebessem. A simplicidade é uma poderosa ferramenta para o convencimento das coisas complexas.
Lembrei-me da amizade, que para o clube chama-se "companheirismo". Nós não tínhamos isso e enquanto não fosse esse o sentimento reinante, nada poderia existir e menos ainda perdurar.
Fiz todos os possíveis para levar os integrantes do clube a um encontro que haveria em Ouro Preto. Levantamos fundos, trabalhamos juntos, e lá fomos nós participar por quatro dias do encontro mineiro da minha associação. 
Havia diante de mim apenas o desconhecido, além de algumas horas valentes em um auto-carro e uma perspectiva incerta de sucesso ou fracasso.
O encontro em tudo excedeu as expectativas. Havia entre os participantes muita alegria pela amizade! Logo nos deixamos contagiar e no regresso à casa éramos companheiros e não mais apenas "sócios do mesmo clube". 
Em verdade, agora revistos, aqueles poucos dias fizeram muito mais do que dar alma à instituição, deram a mim próprio a perspectiva da alma humana que não pode estar comprometida com nada onde não esteja verdadeiramente o seu coração.
E por partilhar esta verdade com os meus verdadeiros irmãos de ideal, quando falam-me, falam muito alto em mim. Qualquer que seja a mensagem, sempre contam-me mais histórias e ajudam-me assim a revisitar os tempos em que talhamos com maço e cinzel o caráter uns dos outros e nos tornamos homens de bem.