quarta-feira, fevereiro 23, 2022

De Rosário da Limeira para Santa Rita do Glória


Vovó Augusta com idade entre os 30 e os 35 anos

Não nos chegou informação de como se deu o seu casamento com o trisavô Antônio Gomes de Paiva, que chamarei aqui de vovô Antônio Gomes.
Presumo que para o casamento interferiram, além de sua mãe, vovó Heduviges, seus tios da família Alves Pereira que ainda residiam em Santo Antônio do Onça (atual Belisário), e sua avó paterna Mariana Luísa de Paiva. Isso por conta de Antônio Gomes de Paiva ser muitas vezes qualificado no registo civil com a profissão de negociante, ocupação que era também a de sua avó Mariana, que passou a cuidar dos negócios do seu finado marido Belisário Alves Pereira. Sabe-se ainda que o vovô Antônio Gomes sabia ler e escrever (ao menos, assinava o próprio nome de forma bastante legível e com uma caligrafia bonita), e era razoavelmente bem relacionado no povoado de Rosário da Limeira, pois aparece como testemunha em diversos atos de registro, residindo no próprio povoado e, naturalmente, muito próximo do cartório. 
O casamento se deu em 1887 ou 1888, quando ela tinha apenas 16 ou 17 anos de idade. Isso porque o tio-bisavô Augusto Gomes de Paiva, primeiro filho do casal, era possivelmente nascido em 1889. Também se pode afirmar com certeza que casaram na freguesia de Rosário da Limeira, pois assim surge declarado nas certidões de nascimento dos filhos. E não podemos especular mais que isso: vovó Augusta casara órfã de pai, sem grande dote e, ao que se sabe, portanto, o vovô Antônio Gomes também não era rico.
Logo a seguir ao casamento, os registros sugerem que foram viver na zona rural, para um lugar chamado Vargem Alegre, na freguesia de Rosário da Limeira, e ficava a 3/4 de légua de distância do cartório, o que equivale a quase 4 quilômetros. 
Vovó Augusta e vovô Antônio Gomes tiveram 12 filhos. Ao menos os primeiros nasceram em Rosário da Limeira: Augusto em 1889, José em 1891 (que faleceu antes de completar 1 ano de idade) e Maximiano em 1893. 
A escolha dos nomes foi alternada entre vovó Augusta e vovô Antônio Gomes: o primeiro, foi ela quem escolheu, afinal, pôs o seu próprio nome: Augusto. O segundo, José, foi o vovô Antônio Gomes quem escolheu, pois seu pai se chamava Gomes José e falecera recentemente (entre 1889 e 1891). Já o terceiro filho, Maximiano, foi obviamente uma escolha da vovó Augusta, pois era o nome de seu pai, sendo outra homenagem póstuma.
O segundo filho, José Gomes de Paiva, nasceu em 1891, tendo sido registrado no dia 29 de Outubro desse ano. Na altura, a jovem família vivia na zona rural, em Vargem Alegre. Infelizmente, o pequeno José veio a falecer consumido por febre às 10hs da noite do dia 18 de Janeiro de 1892, com apenas dois meses e vinte dias de idade. 
Talvez por conta disso, buscando melhores condições de vida ou de tratamento, a família já vivia na povoação de Rosário da Limeira, próximo ao cartório, quando nasceu o terceiro filho, Maximiano, em abril de 1893.
Eu suponho que as filhas Edwiges (1894), Umbelina (1896) e possivelmente Maria Joana (1898) e Francisca Angélica (1900) também tenham nascido em Rosário da Limeira. 
No entanto, o mais provável é que com o crescimento da família e as naturais dificuldades para criar tantos filhos, tenha havido um convite do tio José Belisário e da tia Francisca (Chiquinha) que já viviam em Santa Rita do Glória, para que a família de Augusta e Antônio Gomes também fossem para lá, onde teriam a ajuda dos tios para criar os filhos.
Como o tio José Belisário e a tia Chiquinha não tinham filhos e possuíam muitos recursos, a aceitação do convite e a mudança da família para Santa Rita do Glória deve ter sido algo bastante natural. Além disso, os tios eram pessoas muito amorosas e dedicadas aos sobrinhos. Terão sido, sem dúvida, um apoio fundamental na vida de vovó Augusta e de toda a sua família, sendo que as referências dessa dedicação amorosa existem ainda hoje na própria memória familiar.
Embora os filhos José Thimóteo (1903), Galdino (1905) e Luciano (1908) possam ter nascido tanto em Rosário da Limeira como em Santa Rita do Glória, o mais provável é que tenham vindo ao mundo em Santa Rita. Já os filhos mais novos, Antônio Júnior (1910) e Afonso (1914) certamente nasceram em Santa Rita do Glória.
A vinda de Rosário da Limeira para Santa Rita foi sem dúvida um momento decisivo na vida de vovó Augusta. Eu suponho que o evento tenha se dado entre 1895 e 1900. Uma visita aos livros de registro de nascimento em Rosário da Limeira iria clarificar isso. 
Como já dei a entender, o marco inicial para a mudança aconteceu muito antes, com o precoce falecimento de Belisário Alves Pereira, ainda em 1870. Os filhos mais velhos tiveram de lançar-se prematuramente à gestão das muitas fazendas, entre elas, as de Santa Rita do Glória. Para Santa Rita foi enviado Germano, que tinha por volta de 18 anos de idade e era o filho homem mais velho, tendo ido para Monte Alverne. Já José Belisário, apenas com 16 anos de idade, deve se ter casado pouco depois de 1870 e também rumado para Santa Rita. Também para as fazendas de Santa Rita veio um dos genros de Belisário, Raymundo Dias Paes, casado com Rita, sendo que estes ficaram com as terras mais próximas a São Francisco do Glória.
Ao que me parece por pesquisas nas certidões, Germano faleceu prematuramente, já sendo extinto em 1889. No entanto, há mais de uma fonte que diz ter sido casado, e numa certidão de casamento de Theodora Maria de Jesus (quase o mesmo nome de uma das irmãs de Germano: Maria Theodora de Jesus) com Antônio Francisco Monteiro Júnior, os pais da noiva são citados como Germano Alves Pereira (embora o prenome tenha sido escrito com jota), referido como falecido, e Rita Umbelina de Paiva. 
Com o desaparecimento de Germano já por volta de 1889, é natural que o tio José Belisário tenha visto na vinda do vovô Antônio Gomes uma ajuda preciosa para se tratar daqueles negócios em Santa Rita do Glória. Mas a mudança só se terá consumado entre 1895 e 1900, embora não possa precisar para já.
Pelo relato do primo Paulo Afonso, José Belisário teria dado para o vovô Antônio Gomes as terras que depois seriam herdadas pelo filho mais novo deste (e pai de Paulo Afonso), o meu tio-bisavô Afonso Gomes de Paiva.
Acredito que outras terras antes disso teriam já sido doadas ao vovô Antônio Gomes por José Belisário, pois a quantidade de terras que tinha era imensa, assim como casas de moradia no distrito. Quando o meu bisavô Maximiano casou-se em 1912, recebeu 10 alqueires de terra de presente de José Belisário, que eram uma propriedade na Fazenda Santa Cruz.
Quando vieram para Santa Rita, assim como já se dava em Rosário da Limeira, Antônio Gomes e Augusta foram morar na povoação sede do distrito. Conforme conta Paulo Afonso, que passo a citar: "Moravam naquela casa cujo fundo do quintal faz a curva do Rio Glória, depois que ele passa a atual ponte. Ali Papai [Afonso Gomes de Paiva] nasceu. Frequentei muito aquela casa e brinquei muito naquele quintal, sempre imaginando a presença de meus avós, meu pai criança e meus tios por ali. Papai dizia que vovó não ligava muito, por isso, ele cresceu dentro daquele rio".
Nessa mesma casa, situada na Rua da "Ponte", no dia 10 de Março de 1925, pelas 16:30hs, o vovô Antônio Gomes faleceu. Depois de ter perdido o pai com menos de 6 anos de idade, vovó Augusta ficava agora viúva com apenas 54 anos de vida, e ainda quatro filhos menores de idade, além do filho José Thimóteo, ainda solteiro. José Thimóteo, inclusivamente, nunca chegaria a se casar, e teria uma relação muito difícil com a mãe.