domingo, janeiro 25, 2009

Antiga, mui nobre, sempre leal e invicta

Ponte Dom Luiz I vista das escadas do café Mira Douro

Não bastou o centenário de Manuel de Oliveira, nem os convites dos amigos, teve mesmo de ser por obrigação que acabei por me ver em meio à doçura tão própria das ruas da cidade do Porto.

Hoje o Porto é a segunda maior cidade do país, com uma economia mais pujante que a das outras regiões em diversos sectores, especialmente os de tecnologia. Para além disso, persevera o seu talento natural para a vinicultura, na produção do mundialmente famoso e tão bom vinho do Porto.

Suas ruas, largos, avenidas, jardins, edifícios e igrejas parecem afinal um só, numa unidade que é difícil de definir mas que é plena desse genuíno conceito que informa o que é verdadeiramente português.

A cidade recebeu-me com seu habitual sorriso, mesmo em meio à chuva e ao frio que o inverno lhe impele, deixando às sombras umas feições tão formosas e cheias de confiança, que refletem com perfeição o próprio povo portuense.

Trata-se de uma satisfação que me acompanha da época da segunda infância, quando lia sobre a fantástica história do cerco do Porto no século XIX, numa guerra em que estava em jogo a liberdade e a justiça. Nesse conflito em que os números pendiam largamente para o lado de um poder opressor e absolutista, em muito deve-se à cidade do Porto o triunfo da verdade e da soberania do povo português.

Ao percorrer as ruas do Porto antigo, a descer até à Ribeira para junto do rio Douro, imagino os combates e a emoção, mas sobretudo a privação e os sacrifícios pelos quais o povo do Porto teve de atravessar e resistir, como a fome, a morte dos amigos, vizinhos e parentes... Uma luta que não lhes rendeu bens ou títulos, mas que, motivada pelos mais altos ideais, significou um legado de honra e bravura imperecíveis.

O líder dos liberais, vencedor do conflito, era um homem que, mesmo não tendo nascido no Porto (nasceu mesmo em Lisboa), tinha um coração portuense. Tanto assim que o legou à cidade do Porto, encontrando-se até hoje na Igreja da Lapa como uma relíquea o coração do Imperador Dom Pedro I do Brasil ou El-Rei Dom Pedro IV de Portugal.

Não tenho intenção de liderar revolução nenhuma, toda gente merece a paz. Mas assim como aqueles senhores que lutaram do lado liberal preferiam a morte do que uma vida de sujeição ao mal e à tirania, também eu não teria receio de defender o ideal, o mais íntimo comprometimento com nós mesmos.

Em segredo, a olhar a ponte Dom Luíz I na sexta-feira passada, desejei que mais e mais acasos acontecessem a me trazer ao Porto, como é bom lá estar, como me é natural tudo aquilo. Se eu não nasci no Porto, pelo menos sei com toda certeza a que terra pertence o meu coração.