O que decidiram os portugueses nas eleições legislativas de 2009? Talvez a ideia de um país forte e com um governo voltado para as necessidades de todos tenha passado pela cabeça de alguns, mas o mais provável é que o sorriso, a boa disposição de espírito e a notável capacidade combativa do primeiro ministro tenham sido os responsáveis por dar ao seu partido mais um êxito.
Ganha Portugal? Não me parece. Antes, ganham os que, felizes em se alimentar das migalhas da mesa do primeiro ministro, vão ter o que comer por mais 4 anos, subsistência que talvez seu talento não possa suprir. Como o resto do país, os entusiastas militantes do Partido Socialista parecem acreditar que José Sócrates é um homem sério e honesto nas suas promessas. Assim, sonhando com um futuro de largas expensas e privilégios comerciais às custas do tesouro público, continuam a adornar as fotos da vitória, essencialmente, as jovens e atraentes militantes que circundavam já o primeiro ministro nas fotos da campanha.
As eleições provaram também que os portugueses não gostam de atalhos mal iluminados e com más infraestruturas. Provar pela primeira vez tem de ser feito com cuidado e envolvendo o mínimo de risco.
Foi deste modo que o CDS/PP e o Bloco de Esquerda elevaram muito substancialmente suas participações no número de deputados da Assembleia da República, sem ameaçar, no entanto, a supremacia do PS e do PSD.
Aos emergentes, o eleitor disse: "vamos ver o que vocês fazem com esse bocadinho a mais. Se forem mesmo capazes, ser-lhes-á dado mais um bocadinho." Assim como é muito incorrecto achar que o PS e o PSD têm lugar incontestável no cenário político, é igualmente errado achar que mudanças bruscas são possíveis e, num certo sentido, é bom que seja assim, pois a estabilidade é que confere sólida legitimidade.
Mesmo que se diga que a percentagem de votos de forças políticas como o CDU decresceram, o grande perdedor foi, surpreendentemente, o vencedor... O PS que até agora detem algo como 120 lugares para deputado na Assembleia, passará a ter 96 e passa a depender de alianças com outros partidos para aprovar projectos de seu interesse. Afinal, a arrogância da maioria absoluta deste partido mostrou aos portugueses que absolutismo nenhum é positivo e assim, a democracia portuguesa, aos bocadinhos e com muito cuidadinho, já agora vai poder respirar.