terça-feira, janeiro 22, 2013
E o vento levou... Será?
As grandes chuvadas da noite anterior não podiam adiantar com verdade o que se passaria no dia a seguir. Uivos longos e perniciosos do vento logo de manhã tiraram da cama no fim de semana quem precisava de descanso após uma dura semana de trabalho. Os que tinham de sair para trabalhar de certo que enfrentaram alguma resistência por parte da natureza para chegarem ao posto de trabalho.
Mais intenso no norte e centro do país, a ventarra correu o país inteiro e causou danos variados, como milhares de árvores tombadas (aqui em Coimbra a tempestade levou ao chão árvores plantadas no tempo da expansão ultramarina e trazidas das antigas colónias na Índia e na África), placas de sinalização de trânsito também foram abaixo, e mesmo a morte de um senhor de idade que tentava resgatar o gato que tinha fugido em pânico dos uivos horripilantes do vento (o pobre animal devia pensar que era o juízo final e devia ter lá as suas culpas a apurar!). Isso sem falar nos postes de eletricidade tombados e nos cabos que se partiram e assim deixaram às escuras metade do país no sábado e no domingo.
Segundo os cientistas, os ventos de até 130km/h registados em Portugal continental são resultado de mudanças na pressão atmosférica, assim como das condições típicas do início da transição do inverno para o outono. Todavia, custa acreditar...
Ouvimos muitas pessoas mais velhas, algumas com 80, 90 e mesmo centenária a dizer em uníssono: nunca cá tínhamos visto uma tal tempestade! E não é de se duvidar.
Os ventos do furacão Katrina que passou por Nova Iorque tinham ventos de 130km/h! Vejam lá que nos falta talvez o protagonismo mundial da Big Apple, mas em termos da brutalidade da natureza, pudemos ver bem do que foi capaz.
De tudo em tudo, parece-me que este dia em que os portugueses ficaram nas próprias casas, reféns deste constrangedor mal tempo, serviu para compreender melhor aqueles que vivem em terras distantes e sofrem regularmente com os desastres naturais, como as populações das Caraíbas com os furacões e os Japoneses com os terremotos.
Esta esmagadora força que está na natureza e que nos acostumamos a desconsiderar está latente no significado destes desastres. Por mais tecnológica e avançada que seja a nossa civilização, não vamos nunca escapar à verdade natural de que estamos à mercê das forças da natureza. A regra da vida e da morte lembra-nos isso, mas quando esta imposição de poder é demonstrada no exterior fica ainda mais clara esta verdade.
Antes de conformar a natureza, moldá-la, domá-la, procurar modificar o seu código genético à nossa conveniência, talvez fosse mesmo melhor (e mais inteligente) saber respeitá-la na sua condição de parâmetro universal. A própria ciência o faz! Vejam lá: científico é o que é desafiado vez após vez em relação às forças e condições naturais e prova-se sempre verdadeiro. Ora, também daí deveríamos tirar uma regra preciosa, mas esta de cunho das ciências sociais aplicadas, de que é também pela natureza que devemos medir o respeito a ela própria pelo parâmetro que somos parte de um ecossistema: afinal, também o homem é um animal, um animal racional, mas ainda assim um animal.
Esta simples verdade salvaria milhões de pessoas de vidas em vão, desperdiçadas na crença irrefletida de que são únicos e especiais e de que nunca nasceu e nem voltará a nascer alguém tão especial quanto elas. Todavia, se ouvissem às regras universais da natureza (e também se soubessem um bocadinho de história!) saberiam que todas as milhares de gerações que existiram para lhe dar a vida, cada uma delas, também acreditou na mesma falácia.
Carpe diem, pois as forças naturais estão vigilantes e nunca falham.
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