Vovó Augusta e Maria do Rosário (neta da tia Manzica) na grande festa de 1953, na fazenda Santa Cruz
Dona Augusta foi uma mulher de personalidade forte. Foi a primeira filha de Heduviges Augusta Dias de Andrade e Maximiano Alves Pereira, tendo nascido a 20 de Setembro de 1871, e batizada Maria Augusta Alves Pereira, mas foi sempre tradada por dona Augusta. Veio ao mundo na fazenda Serra da Floresta, originalmente propriedade do seu avô materno, Manuel Vieira de Andrade, em Rio Branco, hoje Visconde do Rio Branco.
A informação sobre essa naturalidade está na página 114 do livro História de Belisário, tomo I, de Nina Campos. A autora é uma sobrinha de segundo grau da vovó Augusta, já que ambas descendem do casal Belisário Alves Pereira e Mariana Luísa de Paiva, mas enquanto a vovó Augusta era filha de Maximano, a senhora Nina Campos é neta de Manuel Mariano, irmão um do outro e filhos do referido casal.
Note-se que Heduviges e Maximiano teriam vivido com os pais dela nos primeiros tempos de casados, tendo depois se mudado para Santo Antônio do Onça, atual Belisário, após o nascimento de Maria Augusta, segundo o História de Belisário. Mas os pais em questão eram Luciano Dias Paes e Ana Angélica de Andrade. Supõe-se que Ana Angélica tenha herdado parte das terras de seu pai, Manuel Vieira de Andrade, que passaram a ser cultivadas então por Luciano, seu marido.
Por essa pequena introdução já se nota como a dona Augusta foi uma pessoa fundamental para os Gomes de Paiva de Santa Rita do Glória (ainda vamos lá chegar, no entanto): os nomes Maximiano, Luciano e, obviamente, Augusta foram depois dados à descendência por homenagem a esses antepassados e a forte influência de dona Augusta.
Tendo por significado do seu nome o adjetivo "divino", vovó Augusta era uma mulher que lhe fazia jus se formos considerar que era muito orgulhosa das suas origens heroicas, tendo tido também muito bom berço.
Quanto à sua ancestralidade, era comprovadamente uma descendente do bandeirante Fernão Dias Paes. Seu avô materno Luciano Dias Paes era 5.º neto do bandeirante: filho de Gregório Dias Paes, neto de Vicente Dias Paes, bisneto de Gregório Dias Paes, 3.º neto de Maria Garcia de Abreu, 4.º neto de Mariana Dias Paes e, finalmente, 5.º neto de Fernão Dias Paes, uma figura central na história do Brasil e de Portugal.
Note-se que as suas origens fidalgas não se extinguem no Governador das Esmeraldas pois aquela ancestralidade do século XVII e XVIII em Vila Rica ainda inclui importantes bandeirantes e figuras de relevo na aristocracia mineira: um primo seu foi o magistrado e poeta Cláudio Manoel da Costa, licenciado em direito pela Universidade de Coimbra. Cláudio tomou parte na inconfidência mineira, tendo sido um dos seus principais líderes intelectuais. Segundo os autos da devassa, teria sido em sua casa em Vila Rica que se desenhou a bandeira da república que se fundaria em Minas Gerais e que serviu de modelo para a bandeira atual do estado brasileiro. Preso por ordem da coroa portuguesa, teria a seguir tirado a própria vida no vão das escadas da Casa dos Contos, embora a tese do suicídio seja disputada. Cláudio e dona Augusta tem no paulista Bernardino Chaves Cabral o seu antepassado comum. Bernardino era pai do bandeirante paulista Bernardo de Chaves Cabral, que alcançou a posição de Guarda Mor em Vila Rica, sendo este o antepassado de dona Augusta, como seu 5.º avô. Bernardino também foi o pai de Isabel Rodrigues Cabral de Alvarenga, avó materna de Cláudio, sendo, portanto, seu bisavô.
Essas ligações à aristocracia mineira também a ligam a outro primo famoso: Tancredo Neves, pois tanto o presidente do Brasil quanto a vovó Augusta descendiam diretamente de Vicente Dias Paes: o trisavô de Maria Augusta e 7.º avô de Tancredo.
O parentesco com esses primos é largamente desconhecido na família hoje. As relações com o inconfidente Cláudio Manoel da Costa poderiam ser conhecidas por dona Augusta, mas não se tem notícia que delas soubesse. Já as relações com Tancredo só assumem relevância depois da sua ascensão política, posterior ao desaparecimento de dona Augusta.
No entanto, há muitos relatos do grande orgulho que ela tinha de ser descendente direta de Fernão Dias Paes. Esses relatos foram tão consistentes, que me recordo de ouvir a referência deles quando ainda era criança, tendo sido referido pela minha avó Ziza, meus tios-avós irmãos do meu avô Toninho, neto da dona Augusta, e mesmo por meus tios e primos de 2.º e 3.º graus, tudo num tempo em que seria muito difícil comprová-los.
Fotografia de dona Augusta com 30-35 anos de idade que foi animada
Dona Augusta nasceu numa família de posses, tanto do lado de sua mãe, como de seu pai.
Pelo lado de dona Heduviges, tinha por avó Ana Angélica de Andrade, da família dos Vieira de Andrade, de Rio Branco. Pelo lado de Luciano Dias Paes, ligava-se às famílias de Guarapiranga, então vila de Mariana, que na altura em que nasceu Luciano experimentavam uma grande decadência, tendo sido obrigadas a fazer a transição da exploração das minas para a agricultura e a pecuária, desbravando e ocupando a zona da mata mineira.
Pelo lado de Maximiano, era neta de Belisário Alves Pereira, o celebrado tropeiro e desbravador que fundou o arraial de Santo Antônio do Onça, atual Belisário, distrito de Muriaé. Belisário foi criado num orfanato dirigido pelo padre português Joaquim Rodrigues, de São Januário de Ubá, hoje Ubá. Recebeu uma educação esmerada, mas as habilidades com cavalos, a inclinação à vida ao ar livre e a facilidade de comunicação levaram-no para a profissão de tropeiro, em que se destacou amplamente, tendo amealhado uma imensa quantidade de terras. Era também neta de Mariana Luísa de Paiva, irmã da sua avó Ana Angélica, portanto, da mesma família Vieira de Andrade, de Rio Branco.
A sua infância guarda um evento dramático: o seu pai Maximiano morreu quando ela tinha pouco menos de 6 anos de idade, em Junho de 1877.
Maximiano Alves Pereira era dos filhos mais novos de Belisário e Mariana, e tinha a profissão de negociante. A vovó Augusta dizia que se dedicava aos comércio de produtos como relógios de parede, louças, talhares, além de atacadista: "Meu pai foi o primeiro homem da região a ir à Corte".
Maximiano Alves Pereira
O primo Paulo Afonso relata uma história que certamente ouviu da tia Lila, que conviveu por quatorze anos com a vovó Augusta:
Numa noite, Maximiano chegou transtornado, contando para sua esposa que tinha perdido grande quantidade de dinheiro no jogo. Não sei onde esse fato aconteceu. (Tenho motivos para suspeitar que tenha sido no Rio de Janeiro). Heduviges, que deveria ser meio largada e atirada (não à toa era da família de Fernão Dias), o acalmou dizendo que na noite seguinte ela iria com ele lá, recuperariam o que ele havia perdido e ainda ganhariam mais. Resultado: perderam mais dinheiro. Ele entrou em desespero, ficando inconsolável. Rapidamente, foi-se definhando. Num complexo de culpa muito grande, passou seus últimos dias repetindo: "Que vergonha! Meus irmãos nunca cometeriam um erro tão grande!"
Possivelmente, esse episódio esteve associado à tuberculose, uma doença que grassava na altura, abreviando a vida de muitos jovens.
A morte do pai faz cair fundamentalmente sobre a viúva Heduviges, mas também sobre a filha mais velha, Augusta, a obrigação de cuidar das crianças mais novas: os irmãos Maria Angélica e Antônio, assim como do que ainda nasceria: Luciano. O irmãozinho Antônio infelizmente adoeceu e morreu. Segundo o Memórias, penso eu que por relatos da tia Lila que conviveu por 14 anos com a vovó Augusta e sabia de muitas histórias que depois contou para o seu filho Paulo Afonso, o pequeno Antônio teria morrido de tristeza, por saudades do pai falecido. Chorando constantemente, ele ainda bebê calçava as botas do pai e chamava por ele.
A ajuda dos irmãos de Maximiano foi pronta em acolher e ajudar a cunhada e os sobrinhos. O cunhado José Belisário e a cunhada Francisca, que não tiveram filhos, foram especialmente atenciosos com os sobrinhos, ajudando no que era preciso.
Em 1883, a mãe de dona Augusta casa-se novamente. Essas segundas núpcias eram fundamentais para que a dona Heduviges conseguisse criar os seus filhos. O padrasto de vovó Augusta chamava-se Cândido José Rodrigues, tendo sido ele o pai de seus dois meios-irmãos: Ana Angélica de Andrade e Maximiano Rodrigues Vicente.
Com a constituição dessa nova família e por já se estar tornando mocinha, o casamento da vovó Augusta deve se ter tornado uma preocupação para sua mãe. Aqui começaria uma nova fase de sua vida, marcada pela constituição da sua própria família desde o casamento com Antônio Gomes de Paiva.