
Ilustração produzida pelo Grok da avó Umbelina, avô Gomes, avô Antônio Gomes, o infeliz do Inocêncio e a prima Amália
Muitos homens na minha família são carecas. Em verdade, sou a primeira geração que tenho notícia que não é careca: é careca meu pai, como foram meu avô Toninho, meu bisavô Miano, e foi também o meu trisavô Antônio Gomes, (já que a tia Lila dizia que meu avô era o descendente mais parecido com ele!).
É natural que imaginasse o meu tetravô Gomes José de Paiva como um homem calvo. Calvo, mas com cara de mau, pois a vida de Gomes não foi fácil, e se desse uma de "vítima das circunstâncias" nós provavelmente não existiríamos.
Nos meus estudos e pesquisas, sempre tive a impressão de que Gomes tinha se tornado órfão de pai muito novo. Isso porque ele foi testemunha da assinatura do testamento do sogro ainda com 17 anos de idade (o que sugere que foi emancipado por orfandade).
Embora órfão, Gomes recebeu uma boa educação para os padrões da época: sabia ler e escrever muito bem, e tinha uma linda caligrafia.

A triste nota escrita por Gomes ao Sr. Delegado de Polícia, comunicando o acidente que ceifou a vida de seu filho Galdino
Embora órfão, Gomes recebeu uma boa educação para os padrões da época: sabia ler e escrever muito bem, e tinha uma linda caligrafia.
A triste nota escrita por Gomes ao Sr. Delegado de Polícia, comunicando o acidente que ceifou a vida de seu filho Galdino
Esses indícios mais impressionantes de sua vida, capturados nas minhas investigações ao longo do tempo, evocam uma personalidade invulgar. Vamos reuni-los em uma linha de tempo para proporcionar uma visão de conjunto sobre o meu antepassado.
Gomes nasceu em Piranga em 1828, portanto, já em uma fase de acentuada crise da produção de ouro. Casou-se novo, pois a proximidade com o sogro Domingos Monteiro, um rico proprietário rural, dono de largas sesmarias na região da mata, sugere que o casamento foi arranjado por conta de sua orfandade.
Casou-se com a avó Umbelina e veio para a região da Mata ocupar as sesmarias de Domingos Monteiro na região de Rio Preto e Rosário da Limeira.
Em Rosário da Limeira, teve uma fazenda chamada Pombal, talvez uma pequena referência ao concelho de Pombal, em Portugal. Presumo ter sido nesta propriedade que nasceu o meu trisavô Antônio Gomes e seus irmãos.
Havia por parte da família de Gomes, e também dos Monteiro (famílias claramente muito próximas) relações fortes com as antigas terras dos Bagres e Xopotó, hoje Guiricema e Cipotânea. Muitos registros de família falam dessas duas terras.
Dos filhos que Gomes teve com Umbelina, sabemos apenas de alguns que foram surgindo ao longo dos anos de pesquisa.
A filha mais velha, presumo ser a Rita Umbelina, nascida possivelmente em 1849. Rita casou-se com um Alves Pereira, filho de Belisário, o tio Germano. Pelas informações de Nina Campos, esse casalzinho foi viver para as terras de Belisário em Monte Alverne, mas Germano infelizmente morreu novo. A tia Rita depois era referida no inventário de Belisário, em 1880, como a viver em São Sebastião dos Aflitos, uma povoação de Ubá.
A seguir, presumo ter vindo Antônio José. Deste filho, só sabemos que vivia em Bagres aquando do processo criminal contra Inocêncio, pois o tribunal confundiu-o com o vovô Antônio Gomes, criando um incidente processual.

Trata-se de uma descoberta muito interessante porque, para além dos dados do censo de 1832, temos ainda o inventário de José de Paiva Jorge, com diversas informações preciosas, e que terei a oportunidade de investigar melhor futuramente.
Para já, fico contente de ter localizado o meu avô Gomes no tempo e no espaço. Ele não é mais apenas um nome, é uma pessoa com uma história e um legado de honradez, trabalho, coragem e amor.
Alguns dizem que a genealogia não nos pode trazer muito mais que uma simples recoleção de dados de um passado irrelevante. Mas isso é menosprezar o valor do sangue e da história que nele vive.
Nós somos a combinação dos nossos pais e avós, e em nós eles vivem, como vivemos nós próprios nos nossos filhos. Honrar a memória dos que se foram é honrar o dever filial, certamente.
Mas mais que cumprir com o dever, essas memórias distantes de antepassados que não conhecemos são a lembrança de que a grandeza deles, no grande sacrifício que passaram, enfrentaram e venceram, podem ser para nós um exemplo de superação e motivação contra as nossas próprias adversidades, simultaneamente mostrando a sua face humana e falha, como é a nossa própria.
Casou-se com a avó Umbelina e veio para a região da Mata ocupar as sesmarias de Domingos Monteiro na região de Rio Preto e Rosário da Limeira.
Em Rosário da Limeira, teve uma fazenda chamada Pombal, talvez uma pequena referência ao concelho de Pombal, em Portugal. Presumo ter sido nesta propriedade que nasceu o meu trisavô Antônio Gomes e seus irmãos.
Havia por parte da família de Gomes, e também dos Monteiro (famílias claramente muito próximas) relações fortes com as antigas terras dos Bagres e Xopotó, hoje Guiricema e Cipotânea. Muitos registros de família falam dessas duas terras.
Dos filhos que Gomes teve com Umbelina, sabemos apenas de alguns que foram surgindo ao longo dos anos de pesquisa.
A filha mais velha, presumo ser a Rita Umbelina, nascida possivelmente em 1849. Rita casou-se com um Alves Pereira, filho de Belisário, o tio Germano. Pelas informações de Nina Campos, esse casalzinho foi viver para as terras de Belisário em Monte Alverne, mas Germano infelizmente morreu novo. A tia Rita depois era referida no inventário de Belisário, em 1880, como a viver em São Sebastião dos Aflitos, uma povoação de Ubá.
A seguir, presumo ter vindo Antônio José. Deste filho, só sabemos que vivia em Bagres aquando do processo criminal contra Inocêncio, pois o tribunal confundiu-o com o vovô Antônio Gomes, criando um incidente processual.
Presumo que o tio Antônio José de Paiva fosse de 1852, portanto, já casado e estabelecido por conta própria na altura em que surge nesse registro. Já neste tempo, aparecem muitos "Antônio José de Paiva" nos registros da região, o que dificulta um bocado saber mais deste tio. O que eu suponho, é que o nome "Antônio" fosse tido em muita conta por Gomes e Umbelina, pois deram esse nome a dois filhos!
Depois de Antônio José, possivelmente veio Galdino. Na época do seu acidente fatal, Galdino deveria contar com vinte e poucos anos. Portanto, deveria ser do ano de 1855. Dele, sabe-se apenas que trabalhava com o pai. No dia do acidente, quem o acompanhava era do vovô Antônio Gomes, então um adolescente de 15 anos, que desesperado com a brutal cena de sangue e agonia que testemunhou, correu a buscar ajuda nas casas da vizinhança do acidente, onde uma das rodas do carro de madeiras passou por cima do pobre tio Galdino. Vovô Antônio Gomes também teve grandes doses de sofrimento ao longo de sua vida!
Contamos então até aqui, Rita, Antônio José e Galdino. Vamos adiante!
Em 1857 nasceu José, definitivamente em São Paulo do Muriaé. Isso porque é o único dos filhos de Gomes e Umbelina que tem um batistério registrado: recebeu o Espírito Santo no dia 14 de Março de 1858. Foram seus padrinhos os seus tios Francisco José da Cruz e Maria Rosa de Jesus, esta, irmã de Gomes e mãe da Amália, a sobrinha a quem Gomes salvou a vida muitos anos depois. De José só sabemos isso mesmo. Presumo que tenha sido batizado "José Gomes de Paiva", e talvez com ele começaram a usar Gomes como sobrenome. Mas isso é só uma teoria até aqui. A mortalidade infantil era alta naquele tempo e este tio José pode mesmo não ter chegado à vida adulta.
Depois de José, nasceu o meu trisavô Antônio Gomes de Paiva, nascido certamente em 1861. Este senhor que recebeu o mesmo nome do irmão mais velho, foi um valoroso filho. Sabemos que não veio para Santa Rita do Glória com a esposa Augusta enquanto o pai era vivo, e suponho que também aguardou pelo descanso de sua mãe Umbelina para finalmente deixar Rosário da Limeira pelos idos de 1900.
Depois de Antônio José, possivelmente veio Galdino. Na época do seu acidente fatal, Galdino deveria contar com vinte e poucos anos. Portanto, deveria ser do ano de 1855. Dele, sabe-se apenas que trabalhava com o pai. No dia do acidente, quem o acompanhava era do vovô Antônio Gomes, então um adolescente de 15 anos, que desesperado com a brutal cena de sangue e agonia que testemunhou, correu a buscar ajuda nas casas da vizinhança do acidente, onde uma das rodas do carro de madeiras passou por cima do pobre tio Galdino. Vovô Antônio Gomes também teve grandes doses de sofrimento ao longo de sua vida!
Contamos então até aqui, Rita, Antônio José e Galdino. Vamos adiante!
Em 1857 nasceu José, definitivamente em São Paulo do Muriaé. Isso porque é o único dos filhos de Gomes e Umbelina que tem um batistério registrado: recebeu o Espírito Santo no dia 14 de Março de 1858. Foram seus padrinhos os seus tios Francisco José da Cruz e Maria Rosa de Jesus, esta, irmã de Gomes e mãe da Amália, a sobrinha a quem Gomes salvou a vida muitos anos depois. De José só sabemos isso mesmo. Presumo que tenha sido batizado "José Gomes de Paiva", e talvez com ele começaram a usar Gomes como sobrenome. Mas isso é só uma teoria até aqui. A mortalidade infantil era alta naquele tempo e este tio José pode mesmo não ter chegado à vida adulta.
Depois de José, nasceu o meu trisavô Antônio Gomes de Paiva, nascido certamente em 1861. Este senhor que recebeu o mesmo nome do irmão mais velho, foi um valoroso filho. Sabemos que não veio para Santa Rita do Glória com a esposa Augusta enquanto o pai era vivo, e suponho que também aguardou pelo descanso de sua mãe Umbelina para finalmente deixar Rosário da Limeira pelos idos de 1900.
Meu trisavô foi um homem sério, talvez até mesmo duro, conforme a vida que teve. Viveu para a família e trabalhou muitíssimo. Há registros de compras de terras por ele, sendo que foi produtor de café, e muito colaborou com o rico tio de sua mulher, o tio José Belisário. Tia Lila o recorda como parecido com o meu avô Toninho, como já disse. Penso que deveria ser fisicamente parecido. Na forma de ser, deveria ser um homem sereno, já que a mulher tinha um temperamento difícil, para combinar teria de ser sossegadinho. Tia Lila também contava que ele não gostava de coscuvilhices e falsidades, e ilustra com a anedota sobre quem haveria de ter pintado a frente da casa do padre com dizeres pouco católicos: o vovô Antônio Gomes não se furtou em acusar a própria pessoa que trazia a tal notícia! Certamente, não era dado a contar muitas histórias. Dele sobrou muito pouca memória. Viveu 25 anos certos em Santa Rita do Glória, mas lá deixou imensa descendência.
Depois de Antônio Gomes, veio Hipólita, de 1863. Recebeu o nome em homenagem à mãe da avó Umbelina, que era Hipólita Joaquina. A nossa tia era Hipólita Umbelina. Dela sabemos que casou com o seu primo Antônio José Monteiro, e com ele teve dois filhinhos: Gomes José e Umbelina Calista. A tia Hipólita infelizmente morreu de bronquite aos 32 anos, em Rosário da Limeira, deixando os filhos órfãos de mãe. Um dos poucos ramos da família de Gomes em que consegui identificar descendência, foi o de Hipólita.
Por fim, muito mais novo, aprece o tio João Gomes de Paiva, provavelmente de 1870. O tio João foi a criança que escolheu o nome do Júri que iria julgar o Inocêncio, metendo por seguidas vezes a mão na urna com o nome de todos os convocados para o ato de julgamento. Na altura, deveria contar com 10 ou 11 anos de idade. Tio João foi definitivamente viver para Guiricema enquanto adulto. Eu suponho que Gomes tinha já algum irmão ou irmãos a viver na antiga freguesia de Bagres. Lá, tio João Gomes casou-se com Maria Eduarda da Assunção e tiveram muitos filhinhos. Tio João deu a eles os nomes da família, em um gesto de grande devoção aos Gomes de Paiva, que foi também o gesto do meu trisavô Antônio Gomes: José, Umbelina, Galdino, etc. Foi um descendente do tio João que o meu tio-bisavô Afonso Gomes de Paiva conheceu em Juiz de Fora por acaso nos anos 1980: o primo Sebastião Gomes de Paiva.
Esse apego aos nomes de família, muito repetidos, sugerem que a casa de Gomes e Umbelina foi um lar de amor e de acolhimento. Quem não se sente amado em um lar, jamais reproduz os nomes dos pais e dos irmãos nos próprios filhos!
Por todos esses indícios e tão poucas evidências, sempre quis saber mais sobre a ascendência do velho Gomes, o grande patriarca dos Gomes de Paiva!
Essa busca tinha sido sempre infrutífera, pois a memória familiar mal lhe preservou o nome, e quase nem isso: costumávamos questionar se ele não se chamaria mesmo "José Gomes de Paiva", pelo inusitado de Gomes como primeiro nome!
Recentemente, surgiu em uma das plataformas de genealogia os dados do censo de 1832 que identifica no povoado de Pinheiros Altos, Piranga, uma família com um menino chamado Gomes José de Paiva, nascido em 1828. Era definitivamente o nosso Gomes! Os dados todos confirmavam-no: a origem em Piranga, o ano de nascimento e mesmo a raridade do nome Gomes. Além disso, o segundo nome indiciava o nome do pai: José, e de facto era esse o nome de seu pai.
Na altura do censo, o pobre Gomes já era órfão de seu pai, que se chamava José de Paiva Jorge, um fazendeiro, nascido no ano de 1795. Sua mãe, Efigênia Maria da Silva, de 1802, criava sozinha os seis filhos: Antônio, de 1824, Francisco, de 1826, Gomes, de 1828, Maria Rosa (que sabemos ser a mãe de Amália), de 1829, Rita, de 1830, e Manoel, de 1831.
Depois de Antônio Gomes, veio Hipólita, de 1863. Recebeu o nome em homenagem à mãe da avó Umbelina, que era Hipólita Joaquina. A nossa tia era Hipólita Umbelina. Dela sabemos que casou com o seu primo Antônio José Monteiro, e com ele teve dois filhinhos: Gomes José e Umbelina Calista. A tia Hipólita infelizmente morreu de bronquite aos 32 anos, em Rosário da Limeira, deixando os filhos órfãos de mãe. Um dos poucos ramos da família de Gomes em que consegui identificar descendência, foi o de Hipólita.
Por fim, muito mais novo, aprece o tio João Gomes de Paiva, provavelmente de 1870. O tio João foi a criança que escolheu o nome do Júri que iria julgar o Inocêncio, metendo por seguidas vezes a mão na urna com o nome de todos os convocados para o ato de julgamento. Na altura, deveria contar com 10 ou 11 anos de idade. Tio João foi definitivamente viver para Guiricema enquanto adulto. Eu suponho que Gomes tinha já algum irmão ou irmãos a viver na antiga freguesia de Bagres. Lá, tio João Gomes casou-se com Maria Eduarda da Assunção e tiveram muitos filhinhos. Tio João deu a eles os nomes da família, em um gesto de grande devoção aos Gomes de Paiva, que foi também o gesto do meu trisavô Antônio Gomes: José, Umbelina, Galdino, etc. Foi um descendente do tio João que o meu tio-bisavô Afonso Gomes de Paiva conheceu em Juiz de Fora por acaso nos anos 1980: o primo Sebastião Gomes de Paiva.
Esse apego aos nomes de família, muito repetidos, sugerem que a casa de Gomes e Umbelina foi um lar de amor e de acolhimento. Quem não se sente amado em um lar, jamais reproduz os nomes dos pais e dos irmãos nos próprios filhos!
Por todos esses indícios e tão poucas evidências, sempre quis saber mais sobre a ascendência do velho Gomes, o grande patriarca dos Gomes de Paiva!
Essa busca tinha sido sempre infrutífera, pois a memória familiar mal lhe preservou o nome, e quase nem isso: costumávamos questionar se ele não se chamaria mesmo "José Gomes de Paiva", pelo inusitado de Gomes como primeiro nome!
Recentemente, surgiu em uma das plataformas de genealogia os dados do censo de 1832 que identifica no povoado de Pinheiros Altos, Piranga, uma família com um menino chamado Gomes José de Paiva, nascido em 1828. Era definitivamente o nosso Gomes! Os dados todos confirmavam-no: a origem em Piranga, o ano de nascimento e mesmo a raridade do nome Gomes. Além disso, o segundo nome indiciava o nome do pai: José, e de facto era esse o nome de seu pai.
Na altura do censo, o pobre Gomes já era órfão de seu pai, que se chamava José de Paiva Jorge, um fazendeiro, nascido no ano de 1795. Sua mãe, Efigênia Maria da Silva, de 1802, criava sozinha os seis filhos: Antônio, de 1824, Francisco, de 1826, Gomes, de 1828, Maria Rosa (que sabemos ser a mãe de Amália), de 1829, Rita, de 1830, e Manoel, de 1831.
Trata-se de uma descoberta muito interessante porque, para além dos dados do censo de 1832, temos ainda o inventário de José de Paiva Jorge, com diversas informações preciosas, e que terei a oportunidade de investigar melhor futuramente.
Para já, fico contente de ter localizado o meu avô Gomes no tempo e no espaço. Ele não é mais apenas um nome, é uma pessoa com uma história e um legado de honradez, trabalho, coragem e amor.
Alguns dizem que a genealogia não nos pode trazer muito mais que uma simples recoleção de dados de um passado irrelevante. Mas isso é menosprezar o valor do sangue e da história que nele vive.
Nós somos a combinação dos nossos pais e avós, e em nós eles vivem, como vivemos nós próprios nos nossos filhos. Honrar a memória dos que se foram é honrar o dever filial, certamente.
Mas mais que cumprir com o dever, essas memórias distantes de antepassados que não conhecemos são a lembrança de que a grandeza deles, no grande sacrifício que passaram, enfrentaram e venceram, podem ser para nós um exemplo de superação e motivação contra as nossas próprias adversidades, simultaneamente mostrando a sua face humana e falha, como é a nossa própria.
Que Deus os guarde, ao meu avô Gomes e ao seu povo, que também é meu, em Sua infinita misericórdia.


















