Greenwich é um dos bairros de Londres, um bairro muito bonito, por sinal, mas o local é mesmo conhecido mundo afora por ter dado nome à linha que corta o globo longitudinalmente e o divide em duas partes: leste e oeste.
Estabelecido por Sir George Biddell Airy em 1851 e aceito internacionalmente a partir de 1884, sempre tinha me feito impressão o motivo pelo qual aquele lugar e não qualquer outro no mundo, tinha sido escolhido para ser o ponto zero da longitude do mundo. Se lembrarmos, entretanto, que na altura em tais estudos de coordenadas geográficas foram feitos, o centro cultural, econômico e científico do mundo era aqui na capital do Reino Unido, essa estranheza deixa logo de existir.
Ontem estive a passear por lá pela primeira vez. Como turista na cidade onde moro já há algum tempo, não podia deixar de ir visitar o lugar.
A vizinhança de Greenwich é muito bonita e alegre. As casas parecem mais coloridas e certamente há mais crianças que noutras regiões de Londres, devo ter contado no mínimo uns 30 carrinhos de bebê em algo como uma hora e meia. Talvez tenha contribuído para o número o fato de ter atravessado o parque que guarda o observatório e que o mesmo é maravilhosamente florido, daí já não me surpreenderia pela natural ligação dos bebês e das flores, pois coisas belas costumam estar juntas.
Envolto nessa atmosfera, o velho observatório astronômico de Greenwich, onde consta bem a linha que divide o mundo e as longitudes e latitudes de várias capitais, ainda guarda muito da sua original feição: parece que se pode ler nas paredes a certeza e a precisão das distâncias e das localizações, como se fosse uma liberdade ao grande medo de peder-se, afirma-se sutilmente que estamos agora num mundo onde todos os centímetros são cuidadosamente medidos e pode se saber a localização de qualquer coisa com o mero ajuntamento do correto par de graus latitudinais e longitudinais. Especialmente para os fins militares, é capaz que tal seja mesmo muito útil e até para uma questão de orientação espacial quando se faz uma excursão por um lugar remoto, mas ressalvados esses e outros casos correlatos, parece-me de uma aplicação restrita.
Imagine-se, entretanto, se fosse possível meter coordenadas no que se sente e pensa. Essa talvez fosse uma idéia que tivesse maior apelo e é possível que muitos se interessassem em saber por onde anda a caridade, o amor, a consciência, o respeito das pessoas em geral ou mesmo de quem se ama.
"Meu amor está na latitude 33º, longitude 21º" e pronto, era ir para esse lugar dentro de si e poder encontrar o sentimento. Certamente, o centro internacional do meridiano de si mesmo devia ser o coração. A partir dele, uma linha imaginária a dividir-nos pela metade para que fóssemos demarcados e em nós se pudesse achar tudo o que de mais precioso existe, mas que tantas vezes é difícil encontrar.
A contemplar tantas possibilidades, com o pensamento leve e ponderado, equilibrei-me como quem anda numa corda bamba enquanto andava sobre a linha que divide o mundo.
quinta-feira, junho 26, 2008
domingo, junho 15, 2008
A piscina
Depois de muito tempo encontrei a foto em que está um primo meu e eu na piscina na quinta do tio Max, na altura em que éramos meninos ainda. Atrás, as palavras "os mergulhadores".
Quando chegavam as férias do final do ano, chegava também a época de ir para lá cultivar os bons hábitos da infância tardia que espertamente não quer se despedir. Fazíamos uma boa refeição de manhã e , com a bola de futebol debaixo do braço, rumávamos para lá, para o resto do dia as refeições eram no pomar, sempre visitado entre uma atividade e outra.
Dias havia que nos dedicávamos à caça, outros para explorar as antigas casas de colonos, outros para o três-troques no futebol, mas quando fazia mesmo calor, eram dias na piscina.
Não me lembro mais das dimensões, mas podia-se nadar livremente uma boa distância, ao menos em termos de braçadas de menino. Na parte mais funda devia contar com pouco mais de 3 metros e na mais rasa eu, com algo como um metro e meio, dava-me pé facilmente.
Muitas vezes nadávamos na piscina como os gladiadores lutavam nas arenas: uma cerrada competição, seja para ver quem tinha mais fôlego, seja para ver quem nadava mais rápido, mas de todas as disputas, minha favorita era o mergulho. Numa das modalidades que eu mais gostava, ficávamos de costas para a piscina e ao mesmo tempo jogávamos uma moeda dentro d'água: quem trouxesse a moeda do outro primeiro ganhava. Noutra modalidade, valia mais o movimento do mergulho: tomava distância e, tendo em conta um degrau bem antes da quina, media bem os metros para o impulso, o salto e a entrada na água, a força com que me jogava para o impulso através da água para vir à tona bem mais à frente.
Por vezes quando nado no centro de esportes da City University fico a lembrar daquelas tardes de verão e daquele tenaz mergulhador que não admitia jamais vir a tona sem a moeda do adversário: sorri-me sempre cheio de camaradagem quando o procuro no espelho.
Quando chegavam as férias do final do ano, chegava também a época de ir para lá cultivar os bons hábitos da infância tardia que espertamente não quer se despedir. Fazíamos uma boa refeição de manhã e , com a bola de futebol debaixo do braço, rumávamos para lá, para o resto do dia as refeições eram no pomar, sempre visitado entre uma atividade e outra.
Dias havia que nos dedicávamos à caça, outros para explorar as antigas casas de colonos, outros para o três-troques no futebol, mas quando fazia mesmo calor, eram dias na piscina.
Não me lembro mais das dimensões, mas podia-se nadar livremente uma boa distância, ao menos em termos de braçadas de menino. Na parte mais funda devia contar com pouco mais de 3 metros e na mais rasa eu, com algo como um metro e meio, dava-me pé facilmente.
Muitas vezes nadávamos na piscina como os gladiadores lutavam nas arenas: uma cerrada competição, seja para ver quem tinha mais fôlego, seja para ver quem nadava mais rápido, mas de todas as disputas, minha favorita era o mergulho. Numa das modalidades que eu mais gostava, ficávamos de costas para a piscina e ao mesmo tempo jogávamos uma moeda dentro d'água: quem trouxesse a moeda do outro primeiro ganhava. Noutra modalidade, valia mais o movimento do mergulho: tomava distância e, tendo em conta um degrau bem antes da quina, media bem os metros para o impulso, o salto e a entrada na água, a força com que me jogava para o impulso através da água para vir à tona bem mais à frente.
Por vezes quando nado no centro de esportes da City University fico a lembrar daquelas tardes de verão e daquele tenaz mergulhador que não admitia jamais vir a tona sem a moeda do adversário: sorri-me sempre cheio de camaradagem quando o procuro no espelho.
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