sexta-feira, outubro 28, 2011

Viva a aristocracia!

Aldous Huxley

Sou um animal político, como todos nós somos, e como tal interesso-me pelos sistemas que informam a distribuição do poder.
Atualmente vivemos um tempo de democracia, em Portugal desde 1974 e no Brasil desde 1985. Não que esta seja a primeira experiência democrática destes países... Mesmo no tempo dos reis ela existia e era bem exercitada, nalguns (poucos) períodos da vida republicana também.
Os seus defensores dizem que é o melhor dos sistemas, pois consagra a legitimação popular e todas as outras alternativas não são melhores.
Acredito que essa ideia comummente aceita e quase nunca desafiada é uma mentira das grossas.
A democracia é uma branda maneira de favorecer a corrupção, a ineficiência e a infelicidade.
Através do regime democrático grandes charlatães e demagogos alcançam posições de grande poder e influência para distribuírem favores aos seus e causarem grandes prejuízos aos cofres públicos.
Pela democracia o povo se anestesia e evita discutir pois a decisão popular consagrou aquele governo e toda contestação cai sempre nessa falácia.
Este nefasto sistema é o que proporciona as muitas perdidas horas de trabalho dos parlamentos do mundo todo, com seus grupos inconciliáveis a morderem-se uns aos outros por um pedaço maior do bolo, formados quase sempre por políticos de carreira, formados nas maliciosas juventudes partidárias para se converterem em políticos de carreira, pessoas incapazes e muitas vezes mal intencionadas e cuja produção não reverte minimamente o custo que consome. A aristocracia é bem diferente.
Posso afirmar que nenhum outro sistema garante tanta eficiência, transparência ou felicidade quanto este de premiar o talento, o esforço e o gênio individual, pois parte do princípio de que os seres humanos são diferentes, o que é uma verdade incontornável e que os que defendem a democracia teimam em ignorar ao pretenderem, de maneira hipócrita, que os homens são iguais.
Se fôssemos iguais não haveria presídios, nem universidades, nem parlamentos, todos faríamos parte dos mesmos círculos pois é isto que consiste a igualdade que se pretende com a democracia quando é levada às últimas consequências e que no fundo não passa de uma ilusão e um embuste político.
Acredito firmemente que nos aproximamos cada vez mais da aristocracia. Vejam que não estou a referir à autocracia, onde as liberdades e os direitos fundamentais cedem lugar a uma ordem totalitária e opressora, onde a vontade de um indivíduo ou de um partido se converte em supremo mandatário da nação. A aristocracia também não tem a ver com um elitismo económico, onde o poder seria concentrado nas mãos dos donos dos meios de produção e do capital financeiro, estes grandes gatunos que não possuem minimamente as condições de carácter para gerir algo para o bem comum.
A aristocracia refere-se a premiar o talento. É uma sociedade voltada para alçar às posições de liderança os indivíduos mais capazes.
Incute no povo a ideia de que o talento e o esforço pessoal são o maior de todos os patrimónios e uma vez que um indivíduo os possua as portas estarão abertas ao seu contributo.
Também é mais amplo do que pode parecer à princípio pois não se circunscreve apenas à esfera meramente política, mas informa o próprio sistema de educação, por exemplo.
Na aristocracia os estudantes, desde tenra idade, são incentivados a assumir uma postura mais ativa na construção do seu próprio conhecimento. Desta forma, ao invés das maçantes e improdutivas horas a ouvir a palestra do professor, cada aluno deve trabalhar ativamente em tarefas de pesquisa e de exercícios a fim de cumprir um programa semanal mínimo de estudos. As classificações obedeceriam portanto a qualidade do trabalho produzido e a eficiência com que foi desempenhado. Os próprios mestres também deveriam apontar as qualidades de carácter dos alunos e destacá-los para tarefas mais apropriadas para o seu génio individual. Este sistema, por acaso, já existe e goza de boa saúde em muitos países, como a Inglaterra, os Estados Unidos e mesmo em Espanha. Trata-se do "Plano Dalton". Há uma escola que implementou este programa no País Basco e que tem resultados maravilhosos. Também na Holanda é muito popular. Em Portugal e no Brasil, no entanto, não há uma só escola que funcione nestes termos.
Indivíduos educados desta maneira seriam muito mais ativos na sua vida adulta, teriam muito mais iniciativa. Não ficariam à espera, iriam sempre tomar à frente da prória vida e ir em busca daquilo que lhes interessa. Eis outra feição do regime aristocrático.
De tudo em tudo, não se trata de promover um elitismo, mas de promover uma cultura de elite onde as posições de comando são dadas aos indivíduos mais capazes de as desempenhar.
As funções legislativas, executivas e judiciárias do Estado seriam desempenhadas pelas pessoas mais preparadas e cuja preparação seria aferida pelo seu percurso de vida, pelo conhecimento que adquiriram, pelo seu carácter atestado por quem os educou, pelos objectivos que tem para si próprios e para sua vida.
Muitos irão dizer: "este aqui está a delirar...", mas estas mesmas palavras foram direccionadas a Jean Jacques Rousseau quando as suas ideias iluminismo e anti-absolutistas começaram a ser publicadas e hoje ninguém ousa discordar destas mesmas ideias.
O que se passa é que a implementação de um outro regime em substituição ao democrático é algo que só pode ser feito no desenrolar das folhas do tempo, a dizer, as seguidas gerações, a pouco e pouco, tem de assimilar os valores da aristocracia (que já existem, principalmente no mundo empresarial) e desenvolver os modelos pelos quais esta aristocracia irá passar a vigorar.
Um primeiro passo seria o estudo desta fascinante forma de organização do Estado e da sociedade. Recomendo "Sobre a democracia e outros estudos", de Aldous Huxley. Lá também encontrarão interessantes apontamentos sobre o Plano Dalton.