terça-feira, dezembro 13, 2011

Os que gozam a vida na velhice

Sereno, como o sino do mosteiro abandonado, um olhar parado não se aflige. Não procura com ansiedade as razões das coisas, não conta mentiras por interesse ou por medo, não levanta questões irrelevantes. Olha, vê passar à sua frente.
É desta maneira que penso ser com estes muitos senhores de idade que tantas vezes vejo na baixa durante o dia, a conversar e a ver o tempo passar. É bem verdade que também muitos deles são vistos no Parque Verde do Mondego a jogar as cartas sob as árvores, junto ao Museu da Água, uns mais aventureiros pescam à beira do rio, mais à frente.
Sem pressa de viver, meus amigos. Que belo exemplo nos dão estes senhores reformados! Não correm em desespero, não se afligem demasiado, não se esgotam em preocupações e ansiedades e - digo-vos isso com convicção - são felizes, ou ao menos são mais felizes do que no tempo do trabalho, ou melhor, são felizes de outra maneira, pois que livres da obrigação de prover para si e para os seus.
Arrisco ir mais longe. Acho que se pode ver nesta sua serenidade, mais que o conforto pela despreocupação com o prover, a experiência que vão ganhando com os anos e que os ensinou a ser assim mais brandos, a saber ouvir até o fim antes de dar o palpite ou a sentença apressada.
Penso que, se chegar mesmo à velhice, seria assim como eles. É capaz que não. Acho que é muito difícil ter este estado de calma e de espera (que não é bem espera, é mais uma forma diferente de apreciar a vida).
Todavia, por ter aprendido a não brigar demasiado com a vida e saber aceitar as circunstâncias que vão se impondo contra a minha vontade, acredito também que poderia me adaptar a isto.
Seria assim: sairia cedo de manhã para o meu primeiro passeio, ia ver a rua, como estava a praça assim cedo, depois voltava a casa às 9 horas para um bom e rico pequeno almoço, com ovos, torradas, café e tudo mais sem pressa nenhuma. Às 10:30hs de volta à rua para me encontrar com os meus colegas de reforma e pôr a conversa em dia. O assunto pode ser qualquer um: política, futebol, festas da cidade, o que for - desde que seja uma conversa amena. Às 12 horas de volta à casa para o almoço e posterior descanso da tarde (que vou bem merecer, depois de tantos anos de trabalho!). Às 15:30 horas é sair de novo para o convívio que pode ser de vários tipos, como jogar as cartas ou fazer algum trabalho voluntário, ou uma sessão de dança de salão: o que apetecer! E se o convívio não for boa pedida em alguma altura, de certeza que sempre vai haver boa leitura para fazer, mais uma vez, sem pressas. À noitinha o jantar e o sagrado descanso no conforto do lar.
Assim, depois de um dia tão à vontade, à minha maneira, vou poder espreguiçar à vontade e feliz por ver que a velhice, afinal, não é assim tão ruim como lhe pintam.