Olhares se cruzam num momento, uma se retrái em culpa e medo, outro se agiganta em cólera e desespero. Um toma o suspiro que alimenta o corpo para o ataque, outra franze a testa e encolhe os membros do corpo. Um desfecha a brutalidade de sua covardia, outra recebe no rosto essas toneladas de ciúme numa bofetada. Uma no chão humilhada com os cabelos na cara, outro vociferando sobre a vítima a ressaca de sua onda de músculos.
Todos se aborrecem, alguns seguram o macho escandaloso, outras levantam a fêmea ruborizada. Fim de festa, todos para casa.
Um café para a moça, uma conversa sobre frivolidades... o tal do amor no centro do mundo e das tragédias de novo, a madrugada para silenciar os eventuais deboches dos comerciantes.
No dia seguinte à raiva sucede o remorso, o rapaz pede perdão à moça, a moça perdoa o rapaz depois do seu pedido de perdão, beijam-se, consolam-se.
O mar retoma sua forma, a normalidade acalma-se, assentam os suspiros de receio. Ponho as mãos nos bolsos e violentamente serro os punhos como se segurasse meu corpo sem chão para pisar, como que devolvendo a hostilidade do mundo mas contra mim mesmo e não contra o mundo.
O que pode haver de mais covarde que bater numa mulher? Fico me perguntado às vezes... talvez seja justmente mentir-lhe sorrindo! E talvez o máximo de tudo seja bater-lhe para depois mentir-lhe!
Não vamos colocar aqui todos os fatos como incriminadores de um perverso violentador de moças, nem por isso... Um meninão inseguro de perder seu brinquedo bonito, uma menina romântica precisando de alguém a dizer-lhe que ama.
Os ciúmes tomaram todo seu corpo no exato momento em que a namorada sorria o sorriso que achava só seu para um amigo que bêbado pedia um beijo. O estopim foi que a moça deu o beijo, no rosto, é verdade, mas bastou para a insegurança do amor que ela lhe tinha, mas foi bem aquém do imenso amor, ou vaidade, sabe-se lá, que ele tem pela namorada... Tapas para a moça, gritos, murros bem dados no amigo bêbado. Feita sua justiça, viu que todos lhe viraram as costas em desaprovação, entendeu seu excesso, entrou no seu carro e foi embora. A moça foi erguida, consolada pelos amigos, chingou o namorado, que não queria mais vê-lo, que iria procurar uma delegacia, que não era um animal para ser ofendido e maltratado, mas uma linda mocinha loira de olhos azuis! Também ela, morta de medo e aflição quanto ao fim que aquilo tudo tomaria, tão dependente do seu rapaz impulsivo e estúpido quanto ele da sua fragilidade e carência.
Precisei contar duas vezes, a moça vai precisar viver mais quantas?