Se formos pelas verdades simples, o casamento é a celebração da união de quem se ama. Como se casa, se há festa ou não, onde se casa teria uma importância secundária. Entretanto, não é bem assim, principalmente quando estamos falando das igrejas de Ouro Preto.
A fachada da igreja do Pilar não se coloca tão imponente como a igreja de São Francisco de Assis. De fato, está no nível do chão, no nível em que as pessoas andam, desbotada pelas intempéries, pedindo uma mão de tinta... Apesar disso, foi ali que descobriu-se o primeiro veio de ouro, apesar disso, tem um altar que reluz riqueza e afirmação, apesar disso, é casa de muitos corações.
A contrapor a formalidade e a tradição, imaginei, muito por sugestão de Patrícia, evidentemente, um casamento alternativo ao que se vem fazendo por lá:
Tomemos então, a sugestão de um ritual especial para essa igreja especial: entra a noiva desfilando um vestido algo lilás (contribuição minha), mangas tricolores em azul, vermelho e verde, e mangas curtas, diga-se de passagem! Com presilhas muito bem ajustadas aos braços. A barra do vestido deve vir ao chão e deve ser suspensa pelas mãos, a fim de que se possa ver os pés, devidamente nus, sim, descalços, sem nada a fazer-lhes limite, que não o próprio chão da Igreja do Pilar.
No cabelo, nada de arranjos arquitetônicos. Mais que tudo no penteado fica bem a simplicidade, daí os cabelos soltos, alinhados apenas para compor a noiva com mais harmonia. Para coroá-la, nada de tiaras de brilhantes... fica melhor uma coroa de flores pequenas, flores do mato, uns alecrins, algo ouropretano para mostrar que a flor de noiva que se casa também floresceu naquela cidade.
A marcha é então o próximo movimento nesse ritual: aqui entram as serpentinas de várias cores, e não as cinzas e brancas... pois essas lembram festas de alegria obrigatória... serpentinas vermelhas, azuis, amarelas, até roxas, quem sabe? Todas a cortar a igreja de norte a sul, de leste a oeste, a unir toda aquela gente surpresa (espera-se) na intenção de demonstrar o que me parece ser a alegria do amor, era um símbolo bastante bom por esse ponto de vista.
No altar, encontram-se os noivos, miram-se e de frente para o padre e os padrinhos, juram tudo e prometem tudo quanto lhes coloca à frente para jurar e prometer, fica a aqui a beleza por conta da sinceridade desses votos, infinitamente sinceros.
Trocadas alianças, nada mais há que um beijinho comportado, afinal o objetivo não é escandalizar, mas sim evocar o significado real que deveria ter a cerimônia, seguido da marcha de saída, já agora os noivos juntos, com as mãozinhas dadas, cúmplices no sentimento, ansiosos das conseqüências de sua coragem, o sentimento que enobrece.
Na porta da Igreja do Pilar, à rua onde passam as pessoas que vão à praça ao lado, por onde passam os que vão à praça Tiradentes, noivinhos coloridos de amor recebendo os cumprimentos efusivos e os votos de felicidade dos privilegiados que puderam assistir a fantástica cerimônia, pais estupefatos, nas no fundo muito orgulhosos, e é claro, uma legítima noite outonal da velha cidade, com a lua consideravelmente crescente às esperanças de seguir por toda a vida como naquele instante seguiu-se o coração.