Quem conhece Belo Horizonte conhece o famoso adágio de Rômulo Paes, cronista mineiro, que foi consagrado pelo gosto popular pela sua riminha: "minha vida é esta: subir Bahia, descer Floresta". A "Bahia" no caso é a Rua da Bahia, que corta o centro e dá acesso ao centro sul para a região da Praça da Liberdade. A "Floresta" em questão não tem feras nem mata fechada, mas até que se encontram umas árvores, pois é um belo e tradicional bairro belorizontino, devidamente arborizado.
No entroncamento da rua da Bahia com a rua dos Guajajaras, próximo ao final da Avenida Álvares Cabral, temos o belo momumento que traz o adágio.
Ao povo belorizontino, Vianinha e eu bebemos uma cerveja na tabacaria do edifício Rotary, bem pertinho do referido sítio.
Vianinha, que comigo dividiu os bancos do colégio, acha que o povo daqui tem um mineirismo moderno, como que se fossem patentemente cosmopolitas, mas sem nunca se esquecerem que nasceram na antiga "Curral del Rey". No modo de falar, é engraçada a maneira como não pronunciam o "n" dos gerúndios, tanto mais a proximidade e intimidade da sua voz se falam rápido relatando qualquer coisa.
A boa gente desta capital é composta de gente de todo lado, mas aqui os que estavam no início fizeram valer seu modo de ser e de falar. Vianinha, que agora tirou diploma pela Universidade de Ouro Preto, conhece bem como é diferente a moda daqui para a da cidade histórica, que muitas vezes tem falar mais elegante, uma doçura ainda mais reservada, com seus sorrisos jamais precipitados. Mas prefere Belo Horizonte!
Vianinha e eu não somos daqui, mas do sudeste mineiro, região com influência cultural forte do Rio de Janeiro, pela proximidade geográfica inclusive, mas sempre Minas Gerais.
Aprendemos desde cedo que Juiz de Fora é que era a capital de fato do nosso estado, pois supostamente mais culta, mais histórica e mais metropolitana, nisso fomos em muito instruídos no tradicional rivalismo com a capital de direito. Mas Belo Horizonte tem suas qualidades! Já vi o Clube Atlético Mineiro ter esperanças em vão, já vi a juventude da zona sul encantada de si mesma na praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi, já vi Fernando Sabino e Carlos Drummond proseando depois da morte na Praça da Liberdade e namoradinhos colados no gramado do parque municipal no domingo de sol, mais que tudo e já há algum tempo, vi um belo horizonte da Raja Gabaglia. Cidade generosa que reúne a nós mineiros.
Assim como minha amizade com a querida Patrícia Godefroid, foi aqui na capital que retomei e vi plena como dantes minha amizade com o querido Vianinha, depois também de muitos anos. Despeço-me de todo rivalismo e dou graças ao fato daqui ter cultura vibrante, cursos em todos os graus, sedes nacionais de pujantes sociedades empresárias que fatalmente tomam os nossos serviços de advocacia. Patrícia veio estudar, Vianinha se especializar, já eu vim para encontrar-me com eles e para não ficar muito ocioso, resolvi trabalhar.