quarta-feira, agosto 16, 2006

Quando eu te encarei frente a frente

Quando os turcos tomaram Constantinopla disseram que era uma grande cabeca sem corpo, pela decadencia do Imperio Bizantino, reduzido aquela bela cidade. Olhando Londres hoje, cheia de imigrantes, e' como olhar um corpo sendo preenchido, e' como ver uma cabeca que se levanta.
Gente do mundo todo tem certeza que e' possivel ser feliz aqui. Refugiados de guerra, gente das ex-colonias inglesas, europeus de regioes mais pobres, latinoamericanos e de mais lugares onde a mente lembrar, tantos e tao variados sao os imigrantes. Todos razoavelmente tenazes. Os ingleses quase se encolhem, mas no fim sao os que mais se beneficiam, afinal, era caro pagar 12 libras por hora para um compatriota limpar a cozinha do restaurante, um polones faz por ate' 1/3 desse salario. Doutro lado, nao ligam nenhuma de ver sua cidade invadida, tendo suas feicoes alteradas, ouvindo linguas estrangeiras para todo canto, o que e' incrivel.
A cidade mantem sua beleza alheia aos invasores, aos herdeiros displicentes, serve a todos seu natural orgulho da gente que construiu isso e morreu e ai' um nome aparece mais alto que os outros e esta' estrito em todas as placas e esse nome e' Queen Victoria. Imagine uma mulher que foi senhora do maior imperio do mundo em seu apogeu, onde dizia-se que o sol nunca se punha e que se esforcava para esmagar o orgulho dos conolizados ao mesmo tempo em que lhes tomava as riquezas para nesta ilha erguer 50 mil casas vitorianas para os operarios, todas identicas, ou uma torre que sustinha a unica ponte do mundo de entao que se suspendia para os navios passassem. Outros tempos.
A 2ª Guerra Mundial deixou aqui marcas, diga-se: fez esse pais aliado incondicional dos Estados Unidos e seu apoiador incondicional, o que, de certo, ja o fez menos ingles, mas garantiu a continuidade de sua riqueza, o que de certo era o que nao podia prescindir absolutamente.
Todas as manhas e tambem no fim das tardes ouve-se os corvos. Seu voo e' feio e sua postura e' a de quem espera a morte. Imagino o que as geracoes seguidas deles pensam do que se passa com o pais que sempre viram tao energico e que agora parece ser o objeto de seu curioso zelo. Afinal, eles e tambem eu nos perguntamos: para onde isso aqui vai?
Certamente permanecera' orgulhoso das suas cidades herdadas, mas do que valera' essa reverencia esquecida das suas fundacoes originais eu nao imagino.