Estavamos, um colega que tambem trabalha no Museu de Ciencia e eu, quase a chegar a entrada do caminho subterraneo para a estacao de South Kensington quando fomos parados por um casal com sua penca de filhos para dar-lhes informacoes.
'Onde e' o Museu de Ciencia?' -E' esse predio aqui a sua direita, senhor. 'Oh, realmente!' dizia constrangido enquanto o pequenito se escondia atras de sua perna e ria pra mim como a desafiar-me e eu de volta, ria ao puto com uma simpatia que nao dou a toda gente.
Seguiram o seu caminho e tambem nos seguimos o nosso, mas por todo dia nao segui senao com aquela imagem no pensamento, afinal aquela suavidade arrancou-me pra fora das coisas praticas e de novo podia tocar as coisas sem que fosse com as maos e que beleza nao pude ver descrita no dia de sol e vento cheiroso que tivemos hoje.
Ganhou mais tempo a minha ponderacao e num minuto pareceu tolo considerar, considerar, considerar para afinal fazer a coisa errada, faco o que faria aquele puto, eu sorriria cheio de confianca em mim mesmo, a esperar que nao houvesse razao melhor que a grande generosidade do meu coracao.
Assim aturei muito bem o grupo barulhento de estudantes espanhois que infestou a galeria da navegacao espacial e com grande polidez pedi a um senhor alterado que moderasse sua voz ao corrigir o filho e ainda consegui ir alem e surpreendi-me a mim mesmo: dei ate' conselhos sentimentais ao bem bom Johnathan! Afinal que tipo de namorada se recusa a preparar o jantar a um homem dedicado como ele? A que nao se importa... e e' pra gente que nao se importa que foram feitas as guilhotinas: off with her head!
Tambem eu ca' no meu encontro como o menino sorridente decidi num rompante: 'da' ca' um beijo, amor, lembra que eu te amo, que eu nao sonho mais!'
sábado, agosto 25, 2007
Não sonho mais
sábado, agosto 04, 2007
Submersão sentimental
As grandes cidades do mundo talvez deem-se as maos nessa grande angustia do desconhecimento, um desconhecer que nao e' propriamente ignorancia, e' um facto da vida.
Desconhecem-se uns aos outros, desconhecem os caminhos inabituais, desconhecem, por pior que pareca, a si mesmos.
Vivemos aqui juntos, 7 milhoes de londrinos, sob a constante sugestao do prefeito da cidade para que passemos a andar de bicicleta e abandonemos os carros e o metro, achando piada do quanto o novo primeiro ministro bajula os americanos enquanto esnoba os franceses e alemaes... a espreita de algum arabe com olhos arregalados que queira explodir a si mesmo e a tantos quantos estiverem proximos a si, com essa estranha e curiosa pre-disposicao para apreciar humor negro e sarcasmo, com esse despeito pelos dias de sol e os grandes sorrisos com os copos de cerveja de 600 ml nas maos do lado de fora dos pubs a partir das 5 da tarde.
Curto imensamente o modo de vida dos britanicos, especialmente a sua capacidade de serem gentis sem que com isso significar que se importam, nem por isso... e' uma gentileza de estirpe, nao que significa respeito pela outra pessoa. Agrada-me o bom gosto no vestir, especialmente dos homens e das mulheres com mais de 25 anos... as mais novinhas vestem-se como as americanas e portanto, vestem-se como macacas de circo que vao andar naqueles triciclos pequeninos, com grandes bandanas de bolinhas na cabeca e calcas colantes sob as saias... nao chega a perturbar o ambiente de todo. E' bom tomar cerveja para acompanhar o file' de peixe frito e as batatas fritas, o prato nacional por excelencia, e gastar as preguicosas tardes de domingo com os amigos num pub aconchegante e belo como todos os pubs tradicionais sao.
Tanta imersao cultural e eu assim tao submergido, entre o antes e o agora e o depois, esse lapso tonto de acordar 'a tarde com a sensacao que perdeu-se um compromisso... mas nao ha' nada, ficou so' a sensacao e umas saudades com olhinhos tristes de orfa a mendigar moedinhas para um pedaco de pao, um beijinho com carinho, alguma palavra de afecto.
Cinza leve a vagar junto da brisa fria e constante, espectro morbido e jocoso do que um dia foi a minha louca fantasia em brasa, um deboche intimo e cruel, uma maldicao que lanco silenciosamente quando o odio me inflama discretamente antes de converter-se novamente em amor, com o alarde brutal da minha paixao... E repete-se ao infinito os versinhos queridos que me dizem tanto:
'Parte, e tu verás
Como o que era real, resta impreciso
Como é preciso ir por onde vais
Com razão, sem razão, como é preciso
Que andes por onde estás.'
Plena tarde de verao, beijos ao ar, moedas nas fontes da Trafalgar Square, pensamentos distantes 'a beira do Tamisa... tao quente submersao sentimental na capital do Reino Unido.
sexta-feira, agosto 03, 2007
Pedaço de céu
E' sempre a reproducao infinita de Cachito, uma sensacao como a que tinha quando meu avo fazia-me uma grande festa no cabelo ao me ver... e' sempre esse conforto maravilhoso que a distancia converte em numa saliva com gosto de fel que apaixona.