Foi assim a tarde no parque: junto do vento constante o cheiro dos cabelos, vi a luz do sol a deitar-se devagar sobre a gente. Encampei no meu coração a empreitada de esconder-me entre as árvores, buscar com os esquilos o de comer e não voltar nunca mais para junto das ruas e do concreto, quis naquele minuto viver do meu amor e curtir o sorriso do meu amor como minha lembrança cristalizada do mais bonito que podia haver e depois disso nunca mais buscar nada.
Havia sobre as cabeças um azul malhado de branco céu cheio de ambições, como um teto que não é alto o suficiente e por vezes abraço-te e andamos curvados até a saída.
Foi assim junto do memorial do Príncipe Albert. Estavam lá nas escadas os velhinhos a aguardar a abertura das portas para o próximo espetáculo, todos guardados pelo olhar do consorte dourado do alto de seu trono. Descansamos, respiramos fundo, comemos morangos! Ao toque dos dedos pareceu-me o brilho dourado vir antes doutro lado e foram-se a grande indiferença e a dureza para darem lugar ao úmido apreço pelas mãos queridas, pelos beijos ansiados, pelos risos mais sonoros.
Veio uma estrela no fim da tarde e deixou-me no colo a solidão. Agarrei-a com as duas mãos e ao trazê-la junto ao peito abracei-a forte e queimei-me e tanto mais quanto feria-me a pele, tanto mais apertava até que, com o frio da noite já assentada, foi-se de mim num suspiro apaixonado.
Eu caí pelo lado, tonto a sorrir ao esquilo curioso, que desceu da árvore pra examinar aquela doce figura que eu fazia ali.
Pisquei o olho direito ao bichinho que, muito amistoso, deu boas vindas ao novo vizinho com um franzir de bigodes.