Café a esfumaçar, manhã de sol, as portas se fecham atrás dos milhões de pessoas que vão trabalhar nessa vibrande capital onde os sonhos se realizam.
Atrás de mim também fechou-se uma porta. Dentro do meu casaco segui pela minha rua, depois pela minha high street até a estação onde, por debaixo da terra, o trem me levou para Central London.
A multidão em Oxford Circus me adota, tomo parte no caudaloso rio que toma toda a calçada... sérias as pessoas, talvez já a meditar sobre as tarefas do dia, a maneira como dizer as coisas, talvez a confabular mentiras, talvez a ordenar interesses, acho que uns poucos conseguem se distrair para respirar o generoso ar fresco ou admirar o bonito brilho do sol sobre a cidade, algo especialmente raro nessa altura do ano. Também eu desprezo inconcientemente essas doses de beleza e meto-me dentro de mim absurdamente concentrado.
Eis que toca o telefone. Eis que vem uma voz que coloca-me de novo no mundo, brutalmente de face para o ridículo das coisas, timidamente a sorrir para o desconhecido.
"Correu bem a formatura, obrigado pela lembrança" Pois lembrei-me da data e parabenizei o formando em questão, algo assim como que há três semanas...
Que crueldade lembrar do pessoal de lá sem poder tar com eles nos lugares de costume, sem a nossa cidade, sem os nossos teatros, praças, bares, sem nós todos!
Minhas novas estações de metrô, praças com luminosos, ruas magicamente curvadas e colunas monumentais apenas palidamente compensam essas ausências que assaltam tão covardemente.
Tenho bilhete para ir ao Brasil amanhã, mas não vou, meu lugar vai vazio para algum sortudo esticar-se mais durante as 10 ou 12 horas de viagem para atravessar o oceano Atlântico.
Esses minutos contados a ouvir aquela boa voz amiga, entretanto, calaram-me demais e eu chorei mesmo que o frio e a compostura não me deixassem ter lágrimas.
Amigos queridos, há aqui alguém que é por vocês, mesmo quando parece que não lhes liga nenhuma. Cuidem do nosso país por mim e venham cá visitar quando puderem!