De longe eu os vi indisfarçadamente a saltar aos olhos. Um casalzinho nos seus 14 ou 15 anos, deitados na grama do St. James Park, a contemplar um ao outro em meio a pequenas brincadeiras.
Não me viram, nem viram a ninguém que lá estava, pelo que me parece. Tinham os olhos um para o outro e o resto do mundo era uma casual moldura ao rosto da pessoa amada.
Eram certamente ingleses, certamente londrinos, isso pelos penteados, roupas e pelo sotaque mais metropolitano. A moça com um rabo de cavalo e a franja presa para trás. O rapazinho com o cabeço raspado como o do David Beckham. Ela com aquelas sapatilhas pretas rasas, calças colantes e uma blusinha azul com alça delicada. O rapaz com calça jeans preta bem justa, sapatilhas e uma camisa de marca esportiva.
Imagina toda esssa descrição coladinha, misturada, tão juntos que estavam, embora os momentos mais doces fossem quando falavam, havia muito cuidado com as palavras, esse sábio e primordial hábito inglês que costuma lhes evitar tantos problemas e que nós latinos ignoramos orgulhosamente.
Não faziam declarações de amor, entretanto. Eram coisinhas mais simples, sobre música ou amigos, qualquer contexto em que pudessem, timidamente, deixar subentender que gostavam um do outro.
Que coragem que têm eles - pensei comigo. A entrar assim, com um parque aos pés para lhes testemunhar, nessa seara do sonho e da incerteza que embora comece com caminhos simples, por vezes exige muito mais de nós.
Pensei se aquelas primeiras impressões um do outro restariam imaculadas ou iriam com os dias passar a ser algo mais real. Se a voz manteria aquele tom doce e harmônico ao perguntar e responder. Se saberiam sempre dizer as coisas sem ferir e se, mais que tudo, mais que receber, aprenderiam essa misteriosa e generosa feição do amor que é o dar de si.
Embora pareça um parque no verão, cheio de turistas espanhóis e cisnes reais, é mais real vê-lo como a porta para uma selva escura que se tem de atravessar de mãos dadas, um caminho para ser feito a dois, um a apoiar e acreditar no outro, a amarem-se muito e incondicionalmente, talvez assim consigam ver para além disso a mais bela das coisas que lhes espera do outro lado: a espiritualização de toda aquela matéria, a vez em que o parque, a luz, os cheiros e impressões vão estar presentes em cada um tão fortemente que não importa onde estejam, nem como... serão parte um do outro.
Começaram belissimamente bem nessa doce tarde de verão, com lindos vislumbres da luz a mostrar-lhes o caminho.