quarta-feira, novembro 19, 2008

Especial

A comissária para assuntos regionais da União Européia já alertou que Portugal tem de começar a investir em suas pequenas e médias empresas, ao invés de continuar a comprometer recursos comunitários em pontes e comboios de alta velocidade, como quer o primeiro ministro que penteia o cabelo para frente, como se calvo potencial fosse.
Pode parecer uma maçada falar em assuntos assim, entretanto, quando o cinto apertar e faltar dinheiro para as viagens, o cinema e até para a gasolina do carrinho querido, aí talvez seja interessante saber o que se passa no mundo.
Foi puramente por amor ao debate que estive a conversar com um colega sobre o assunto um desses dias, com o Diário Económico à mão, quando ouvi o argumento de que era um investimento especial o que se deveria fazer fazer em infraestrutura e portanto não poderia se perder tempo com outras discussões.
Como a boa retórica manda, a primeira atitude para vencer um argumento é desacriditá-lo e isso se faz com perguntas quanto a raiz da idéia contrária.
O que é ser especial? És tu especial? A tua família? Tua casa? Tua cidade? Teu país? Vale tudo isso de alguma coisa?
O método socrático é perigoso, é administrar em doses suaves para não haver desmaios nem indisposições.
É especialmente interessante notar que Portugal precisa de fazer do que é pequeno e médio, grande. E não me refiro ao espírito pessimista de alguns, isso se melhorasse adiantava muito, mas a idéia aqui é dinamizar os meios de produção para uma escala continental.
Então por que as senhoras que fazem doce em potes na Madeira não podem exportar para a Alemanha? E por que o recém licenciado em farmácia não pode abrir um estabelecimento com outro colega para venderem remédios à encomenda para o mercado local e de Espanha? E os engenheiros que pretendem lançar projectos imobiliários, em sua própria empresa, e vender para França e Inglaterra, não tem apoio e orientação?
Porque, meus amigos, mais que abrir linhas de crédito e micro-crédito para Portugal se levantar da estagnação para a prosperidade, mais que criar mais centros de fomento à pesquisa e inovação tecnológica que acrescentarão mais valia ao esforço e ao suor que corre pela nossa cara, mais que libertar do desemprego e da dependência, da miséria e da humilhação, da privação... mais que tudo que seria certo fazer de verdade, há o que seria ESPECIALMENTE interessante fazer: mais uma ponte sobre o Tejo e o TGV para ligar Lisboa ao Porto.
E assim passam-se os anos... e assim padece, por tantos mais anos quanto não se sabe, toda a gente portuguesa que não é dona de bancos.