terça-feira, março 17, 2009

Minha chávena de chá

À parte da constipação que faz pesar a cabeça e arder os olhos, não há nada que incomode nesse belo dia de sol. Cantam os passarinhos poucos e no Jardim Botânico o cenário paradisíaco da natureza ganha na sua ordem algum maior encanto, já é quase primavera.
Um passar de olhos pelo jornal: uma anaconda que engoliu um cãozinho de estimação na Austrália e ficou mto pesada para poder evadir-se, um golpe de Estado em Madagascar, o desaparecimento das Ilhas Maldivas e o presidente do Brasil a contar vantagens sobre o seu país, com alguma razão de fazê-lo, mas para que dizer se é possível fazer?
Como um corpo adormecido na cama desfeita evade, com mais facilidade que a anaconda do Território do Norte, o pensamento. Desprendido das outras atenções, a arder nas curvas das considerações devido a essa sorte de doença, deságua no velho oceano do afecto e dilui-se num gozo tolo e doce.
Acção. Eis o que realmente é capaz de fazer esse considerar ser expresso aos outros, de nos deixarmos saber, conhecer, de partilharmos. O silêncio, se por um lado priva os outros de se certificarem da nossa estupidez, lado outro oculta o brilho, a poesia, o encanto, esse não-sei-o-quê capaz de fazer dar voltas à cabeça e arrancar os sorrisos de satisfação. Agir, é preciso agir já, nesse belo dia, nessa hora de pasto que seja, nesse minuto de reflexão, nesse segundo ardido na minha garganta.
Já agora fará mais sentido ter uma agenda para os afazeres. Não convém deixar as pequenas tarefas do dia sobreporem-se, o melhor é resolvê-las. Vai-se à ordem do dia, aos estudos, às coisas da casa, à rotina que dá a face da sanidade da vida tantas vezes.
Um belo copo de vinho para acompanhar o almoço, um peixe grelhado com umas batatas boas bem assadinhas, as cebolas e a salsa. Eis por onde passeia o pensamento nesse minuto, de certo modo a desanuviar-se das obrigações, como se assim elas deixassem de existir. É claro que não é assim.
Relembrando uma vez mais a doce "Blackbird", é preciso apanhar nas asas quebradas e aprender a voar e ver que só se esperava por esse momento para levantar-se, mesmo como numa revolução ou então, na mágica cena de Fred Astaire e Ginger Rogers, reconhecer-se nessa condição de dançar com o rosto colado.
Às armas, cidadãos! Mas enquanto não fico curado da constipação, e não é uma solução má, o melhor é encontrar conforto na minha chávena de chá.