Contam-se poucos meses do passamento do meu tio-avô Domingos Ferreira Rios, homem da indústria, proprietário rural e apreciador da cultura cigana.
Acompanhei eu, e acompanhamos todos nós lá de casa, com pesar mas também com uma solidariedade de amigo o seu momento de descanso, após seus seguidos anos a lutar contra problemas de saúde e visível abatimento com que encarava o porvir.
Morreu na velhice, embora tenha tido a inusitada experiência de ser pai já velho, ele se foi tranquilo quanto ao futuro do seu pequeno Rafael. E tranquilos restamos nós, na fé de que a sua alma encontrou o bom caminho para Deus.
Esse pouco tempo que se conta da morte do do meu tio-avô veio a se encurtar de repente com a tragédia que se abateu sobre nós no fim de semana.
Era tarde de domingo quando, numa curva do caminho (esse tortuoso e surpeendente caminho que é a nossa vida) o meu tio Maximiano despistou-se para encontrar a morte às vésperas do seu 60º. aniversário.
Poderia aqui fazer relembrar inúmeros eventos da minha infância e juventude ligados ao meu tio Max. Poderia encher os vossos corações com esse luto que eu sinto e que em alguma medida tem também a serenidade dele. Mas vou dizer o pouco que significa muito.
Foi um homem bom. Nunca obrou o mal, nunca manipulou e nunca utilizou-se da sua posição para seu benefício próprio. Errou, sim, errou, como todos os homens todos os dias erram, mas fê-lo com o coração comprometido com a certeza de que era o melhor.
Foi amoroso com os seus. Sempre preocupado com a sua família, com os seus irmãos, com os seus pais. Um marido que se dizia sortudo, um pai sempre adorado, um avô apaixonado pelas suas meninas.
Foi um bom tio para mim. Honrou o nosso nome no desempenho das altas funções públicas que durante grande parte da sua vida desempenhou. Deixou-me o exemplo do amor pela coisa pública e da caridade para com os menos favorecidos da nossa terra - uma preocupação que quotidianamente ocupa os meus pensamentos.
Não era um homem velho. Era um homem maduro que se preparava para a velhice. Deixou a nossa família novamente órfã de patriarca 23 anos após a morte do meu avô paterno, sempre presente nas suas palavras e no seu coração.
Um coração integralmente livre, que nasceu livre como o vento e que por toda a vida ditou o caminho trilhado na convicção dos melhores valores que também eu recebi e tenho comigo.
Muitos de vocês que lêem essas linhas nunca estiveram com esse típico e bom "miano", mas acreditem que teria sido um gosto. Nós todos bem o sabemos.
Foi para as mãos de Deus e é preciso ter obediência para aceitar a Sua vontade, na confiança da vida eterna e da ressureição da carne.
Pelo descanso das almas dos meus bons tios, homens de bem, orgulho da nossa raça, eu vos peço uma oração sincera.