sexta-feira, maio 28, 2010

Primavera do adeus


Já agora essas árvores cheias de folhas novamente, anunciam o que até aqui se escondia por detrás da primavera bem-vinda... o seu verdadeiro e cruel cariz de nunca mais em Coimbra não pode ser suspeitado antes da Queima das Fitas e da alegria pela volta do tempo de calor depois de tanto frio, mas ele sempre aparece, surpreendendo a todos em uma curva do caminho com um sorriso entredentes a dizer essa triste palavra que é "adeus".

Lembro-me bem das árvores assim, bonitas e tão vivas a encher o corpo da larga avenida Sá da Bandeira, quando conversava despreocupado na esplanada do bar do TAGV com o Celso, completamente inocente de que aquele estupor de vida era também a época do ano em que essas despedidas aconteciam e que depois, no grande frio que há de segui-la, são tão sentidas.

Facto é que já começou a temporada das despedidas. Já pelo meio do próximo mês volta ao Brasil um bom amigo, com quem convivo deste o meu primeiro mês cá nesta terra, e outros devem segui-lo mais à frente, restando sempre menos e agora percebe-se bem isso de não receber de braços tão abertos os que chegam - há no ar essa perspectiva de despedida repentida e o melhor é vê-los passar e sorrir e deixar como está.
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Uma nova (velha) vida espera por eles. Talvez o trabalho, talvez o retorno à universidade de origem, de todo jeito não será mais aqui. Esses que retornaram costumam sempre se lembrar com saudades de Coimbra e da "boa malta" daqui. Bem, eu sou um bocado saudosista para servir de parâmetro, mas é capaz que a recíproca seja verdadeira, ao menos em alguma medida.

Eu não sei, meus amigos, a verdade é que não tenho todas as respostas e nem sei se gostaria de tê-las. Mas duas coisinhas a respeito do assunto eu sei bem e vale deixar aqui para vocês: 1.ª só vá a um aeroporto se tiver de apanhar um avião, não acompanhe ninguém até o aeroporto, despeça-se noutro sítio (ou aprenderá a odiar os aeroportos de uma maneira irracional, embora não injustificada); 2.ª a primavera dos outros povos do mundo pode ser feliz, mas em Coimbra tem mais encanto, se calhar, pelo seu relativo desencanto inesperado de todos os anos.

Mais vale ir à rua e beber uns copos às "almas" dos que estão de partida e desejar-lhes o melhor, se é que isso é possível de desejar a um amigo que se vai.