Os longos anos gastos longe da Princesinha de Minas, a bela Juiz de Fora, não serviram para limar o meu amor pela cidade.
Já quase completos dois anos de ausência, o céu parecia dessa vez menos laranja e as esquinas menos ressentidas. Nos prédios e nas avenidas do centro, a mesma gente a mover aquilo para a frente, as mesmas empresas de transporte público com suas tarifas caras a ajudá-los a ir de um lado ao outro.
Juiz de Fora da minha adolescência, que não é revivada no saudosismo triste de tentar trazer de volta o que já não é e que é desmascarado na verdade mais óbvia: nem eu próprio sou o mesmo. Mas a cidade nos seduz nas pequenas sutilezas que o nosso coração não deixa escapar como ordinárias: aquele último abraço, a última volta pelo centro de madrugada, o costumeiro colorido dos nossos sábados, a contínua brisa a soprar as velhas lembranças na avenida Rio Branco.
Assim solto no meio desse redemoinho de emoções, o coração se aperta, tenta ver no tempo e no espaço aquele rapaz que deixou ali um rasto de risos e lágrimas que o tempo não tem podido fazer sumir.
Os velhos amigos dão os braços para me levar às velhas inscursões do espírito, quando leves e puros, rompemos a barreira de mistério que separa o menino da sua definitiva face de homem. Cantam a canção que inicia o rito, que põe-nos em marcha, rumo aquele mesmo sabido ideal de não deixar falhar a mão ao nosso irmão que nos aguarda para a defesa num momento de aperto. Escorrem lágrimas, dão-se gritos, mas os aviões continuarão a patrocinar a distância e os corações e mentes justifica-la-ão como já fizeram tantas vezes.
Não é um desespero, não é uma agonia sem mãe nem pai, não é o fim e nem o começo do mundo. É, isso sim, ter o coração apertado, como se pulsasse com mil pequeninos cortes a tirar dele o fluido vital que é sua razão de ser.
Entre a tristeza e a alegria de existir tanto para mim nessa boa terra de Murilo Mendes, nunca cessarão os meus pensamentos de amor filial para Juiz de Fora e fraternal para com os juizforanos.