Nas segundas-feiras as crianças não tem vez no parque Moscoso, espaço de recreação e belíssimo jardim, com chafarizes, concha acústica e roseiras bem cuidadas.
Tenho a grande impressão que a segunda-feira não é reservada, como dizem as autoridades, à "limpeza e manutenção", mas sim porque, tendo esse descanso das crianças, dos namorados e dos velhinhos com seus jornais, empregadas passeando com cães ou babás e bebezinhos... na segunda-feira as donas do parque são as noivas.
Acho que escolhem o parque Moscoso para tirar as fotos antes do casamento porque é em volta do parque que há a maior concentração de lojas de aluguel de roupa de casamento de toda grande Vitória. Pensando melhor, talvez uma coisa venha da outra... uma alimenta a outra, afinal, sendo o parque um lugar realmente muito bonito e com paisagens lindas, as noivinhas todas preferem esse sítio para as fotos e lá estando, vão ver as novidades nas lojinhas, que sabendo desse público, ploriferaram-se na região.
O que importa mesmo é que o espetáculo é bonito. Nós, que não somos noivas, ficamos do lado de fora do gradiado olhando a moça fazer poses e caras contentes para o fotógrafo que, recebendo pela profissão tantos sorrisos, por mais amargurado ou triste que fosse de nascença, parecia ser um sujeito formidável, muito alegre e muito paciente, já que a noivinha queria uma foto em cada canto bonito do lugar, uma perto do chafariz, outra numa fonte, outra com os lírios azuis no fundo, uma na concha acústica e uma no monumento a algum herói nacional.
Eu, que tinha comprado jornal e uns pães de mel para ler e comer lá antes de ir à Justiça Federal, tive que ficar apreciando pacientemente esse espetáculo que não suspeitava a causa até um guarda do parque negar-me acesso com aquela frase que sem dúvida dispertou o meu interesse: "desculpe doutor, hoje só as noivas".
Esse espetáculo que se dava fora do mundo das coisas, vez por outra também era interrompido por uma criança que querendo jogar bola na quadra de areia ou fazer um pique-esconde com os coleguinhas, mas tinha que dar meia-volta, às vezes praguejando contra a instituição do casamento e imaginei quase tão repentinamente quanto num susto que quando menino pensava exatamente assim como esses mais revoltados e que hoje já vejo tudo isso de uma forma natural.
Na verdade, sem as noivas do parque Moscoso não haveriam crianças, nem mais à frente namorados e no fim nem os velhinhos para preencher o parque nos outros dias da semana e muito menos advogados fatigados procurando refúgio.