sexta-feira, agosto 05, 2005

Preciosismo

Por que o nome de "Los Hermanos 4"? Por que a sina de querer fazer um novo disco de estilo diferente do anterior? Por que retirar os metais das músicas? Por que achar que ser uma banda de rock que tem letras inteligentes e profundas é ter que estar evoluindo pra alcançar a iluminação?
Quem gosta dos Los Hermanos deve estar se angustiando com essas perguntas frente ao seu novo disco, o "Los Hermanos 4".
A crítica permanece bastante dividida: há os que idolatram as 12 músicas do álgum, outros reclamam que Los Hermanos estão muito preocupados em demonstrar maturidade e fizeram um disco cheio de preciosismos.
Hoje ouvi as músicas e sinceramente não parece nada com o que fizeram antes, é diferente sim, há uma unidade no "Quatro". Entretanto senti muito a falta dos metais, fato que deixou as músicas muito próximas de uma bossa nova sem alegria e irreverência que a caracteriza pelo envolvimento com o samba. Há uma preocupação excessiva em usar uma linguagem poética que acaba sufocando a suavidade que as canções precisam ter e que tiveram. Basta lembrar de uma obra prima como "Retrato pra Iaiá" e depois ouvir "Primeiro Andar", ambas de Rodrigo Amarante, para perceber que a qualidade poética é a mesma, mas a canção ficou menos agradável de ouvir: a impressão de um ouvido que não liga para a letra é de um longo pedido de socorro de algum suicida.
"O Vento" parece salvar em parte essa vontade aloprada de ser inovador, dando alguma sensação de semelhança com os discos passados, "Paquetá" também tem ares assim. Mas se comparadas com as canções do próprio "Quatro" fica melhor nele que em qualquer outro. Todos vão pela vereda de canções plenas de poesia e minimalistas a quanto basta ser, o que faz com que, escutando vezes seguidas as músicas, colha-se o cuidado com que foram geradas e aí é outro aspecto em que vejo mal o disco novo: as suas canções não são tão agradáveis de ouvir à primeira vez que as dos discos anteriores e isso significa que quem diz que Los Hermanos são uma banda de esnobes e orgulhosos vai ganhar muitos adeptos em quem for ouvir o "Quatro" antes dos outros discos. Há gente que vai argumentar que nas canções "fala-se demais e canta-se pouco".
Essa questão dos LH serem orgulhosos e terem-se deixado levar pela fama não é verdadeira de todo e nem falsa de todo. Evidentemente que o fato de serem muito conhecidos e terem muitos fãs mudou bastante o seu jeito de tratar os outros e de pensar a música, esse comportamtento diferente é sobretudo na maneira de negociar os concertos. Depois do "Ventura" LH não aceita que bandas desconhecidas ou que eles próprios não conhecem abram suas apresentações, talvez façam isso para evitar complicações, já que não se pode prever como a banda anterior deixou o público ou o provocou ou o que seja, mas a impressão acima de qualquer escusa é que são muitíssimo esnobes. De outro lado, velhos amigos da cena alternativa carioca garantem que LH é o mesmo desde o primeiro disco: bons amigos!
De todo jeito, o "amadurecimento" dos LH parece antes de qualquer coisa envelhecimento no sentido de perder o sopro de adolescência que havia forte no "Los Hermanos", estava presente em canções do "Bloco..." e também no "Ventura". No novo disco entretanto não há alegria nesse sentido e se há em outro sentido, perdoem, mas ainda não percebi pela melodia de nenhuma canção.