Sobre o coração uma porção de moedas antigas. Tiradas da lata guardada a anos em casa, lembrou-me aquela infância de aventuras e ócio, hoje bastante distante.
A coleção não é grande, mas tem uma peça importante: uma pataca de cobre datada de pouco depois da independência, de 1826, quando imperava Dom Pedro I. Conta também com moedas comemorativas raras, como do primeiro centenário da independência e algumas alusivas ao momento cultural e econômico ou homenageando vultos da história. Também há moedas estrangeiras de vários países, como Cuba, Áustria, Emirados Árabes, Inglaterra e Austrália.
Nunca quis me desfazer das moedinhas, mas nesse dia, olhando-as assim sobre mim, imaginei qual função poderiam ter que não a de esperar. Esperar por esperar é tão tolo quanto amar por amar, não se justifica, embora pareçam fazer sentido essas relações e daí fica difícil rompê-las, são essencialmente confortáveis.
Pensei em vendê-las, mas como a maior parte foi dada de presente, não tive coragem, não valeria a pena. Daí senti que a gratidão somou-se ao que havia de orgulho sentimental para que as mantivesse onde estavam, à espera não sei de quê.
Esperar afinal é o que fazem de melhor as coisas que já não sabemos para que servem mas que pelas mais variadas razões conservamos conosco: "pode ser que um dia seja necessária" já não se disse sobre uma pilha de revistas e jornais velhos?
Guardei as moedas, a nostalgia e a psicologia dos comportamentos humanos estavam à tona e fiquei um pouco mal humorado de ter de repensar em como as pessoas se comportam, em como são. Por que tantas voltas, tanta complicação? Se não fossem essas considerações o significado que têm, não custaria meter as moedas no lixo, como também as pilhas de lembranças, de rastros, de fotos, de sorrisos que já não são o que eram, não estão mais em circulação e não tem mais o valor que tiveram.
As moedas novas, todos os anos valem menos do que valiam antes, aliás todos os meses ou sempre que um preço é reajustado, nalguma medida, o dinheiro perde seu valor, e a moeda que o representa vai junto. Ainda assim valem mais que as antigas na caixa. Não poderia comprar um sorvete com uma pataca de cobre do século XIX.
A pataca serve para lembrar que ela existiu, não posso me desfazer dela porque de fato não tenho poder de dispor e tampouco vale algo além do valor histórico, por tudo isso, ó lógica infernal e sentimentos nostálgicos tolos, por isso conservo moedas antigas com tanto zelo, numa caixa de metal escondida no guarda-roupas de casa.