quarta-feira, novembro 29, 2006

Dos abismos do infinito

Pudera eu novamente olhar nos olhos que me deram amor verdadeiro e retribuir-lhes igual ternura e sinceridade. O instante passou. Seguiu-se um novo dia. Minha alma e o meu corpo amanheceram diferentes, mas eu guardei na lembranca o remorso de nao ter sido capaz de atingir-lhes em igual proporcao... ferira quem me dera a mao!
Num reverso das fortunas, amei muito em vao! Acreditando dar em paga o que antes tinha sido ingrato em reconhecer, elevei demais pequenas figuras... que tortuosa aventura querer acreditar em quem nos mente!
Sei que nunca segui do mesmo jeito. Nao somos nunca os mesmos... Ca' no peito um coracao reservado e tantas vezes rigido e cruel amolece com a singeleza que escapa das coisas... ainda amo a natureza e a humildade, a gentileza e a simplicidade das coisas, alem e' claro de umas pessoinhas lindas desse mundo, que gostam de mel de abelha, que me preparam frango com quiabo, que me viram dar-lhes raminhos de samambaia pretendendo que fossem flores!
Quisera eu poder ditar os valores do mundo! Para mim vale o amor... e o resto que lhe tome a trilha! Mas temos as contas e os impostos, os automoveis e a posicao social... temos tanta coisa que nos garante reconhecimento, felicidade... que o amor sobra a possibilidade de se encaixar nisso tudo, ou nao! Mas subjugar a fe' e' uma coisa arriscada demais e eu nao vou por esse caminho.
Tenho um carinho incondicional pela simplicidade dos gestos... deixar-se deitar de lado para ver TV, com a almofada embaixo da cabeca e a frente a expressao de um rostinho algo curioso e a esperar, numa discricao tao grande quanto a minha, mas muito mais simples que os labirintos caprichosos do meu pensamento. Amiga, incondicional melhor amiga, como o teu nome se levanta covardemente torturante nesses dias! Como me e' sofrida a lembranca do seu vulto a ir-se sempre para o Instituto de Ciencias Biologicas... e o carro dos teus pais dirigido pela tua mae a rumar para a saida sul do campus e eu a mirar anonimamente a cena toda, de longe. Tarde miseravel.
Os olhinhos da namorada, na tarde em que me surpreenderam, plenos de amor, pareceram bonitinhos, simplesmente, aquele olhar que tinha ganhado... Deus do ceu, se eu pudesse entender que o resto da vida era a busca sedenta daqueles olhos, a carencia perene de lhes dar de volta um coracao valoroso... valeria a morte naquele instante, porque nada pode ter maior valor no mundo, nada pode ser tao alto ou tao bonito, quanto olhar em paz e cumplicidade, na serenidade de se saber amado, quem se ama. E do contrario, nada mais tolo que acha-lo bonitinho, simplesmente.