terça-feira, março 20, 2007

Não foi em vão

A minha prima Elza devolveu-me o meu volume do "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles, para minha grande alegria. Não que a Elzinha fosse ficar com o livro para sempre, claro que não, mas é bom rever os amigos e esse um é um amigo e tanto.
Assim se lê contra-capa: "é um dos mais belos livros de poesia da literatura brasileira. Seus admiraráveis versos, dotados de tanta densidade dramática, fazem dele um poema de poderoso sentido coletivo. Desentranhado da história e regado pela sensibilidade apurada de Cecília Meireles." Bem, depois duma descrição dessas ficava difícil não comprar o livro! Se bem que do que é seu não se fala mal, mas mesmo assim sabia que o auto-elogio não era pra vender, era pra valer mesmo.
Em consideração ao tema, é sempre bonito ler boa leitura sobre a Inconfidência Mineira, tema pelo qual tenho mto carinho, afinal, foi uma revolução que se deu na minha terra e que lançou luzes para todo o país e para sempre. A lição da coragem contra a tirania, da honra contra a vilania, do herói que fez-se assim sem matar, apenas pela postura de luta pelo ideal, essa povoa o imaginário e os sentimentos do povo mineiro com muita intensidade.
Na poesia fica ainda mais bonita a história do Tiradentes e de seus sequazes na tenaz empreitada de fazer da terra do ouro uma terra independente, assim também é escrachada com mais vigor, a ponto de termos vergonha pelos outros, a traição de Joaquim Silvério, o traidor. Ainda hoje é comum chamar a um traidor de Joaquim Silvério dos Reis, inclusive é uma espécie de grave chingamento, pela sutileza histórica do nome. Os mitos permanecem vivos entre nós e são mesmo a nossa própria identidade.
Imagino a indignação que moveu aqueles homens a ponto de tramarem uma revolução para libertar Minas Gerais de Portugal, o que equivaleria a ter para si todo o ouro que os portugueses levavam com a derrama (a cobrança de 25% de tudo o que era encontrado nas minas), além de terem poder para conduzir com liberdade a política da terra, o que equilvaleria a instaurar a democracia e abolir a escravidão, fazer reforma agrária e promover o conhecimento como valor superior a uma fé fanática, estavam inspirados pelos ideais iluministas que varreram as mentes do mundo de então.
Embuídos de tantos ideias, foram avante encontrar o seu destino e é pena terem sido traídos e impedidos de fazerem real o sonho, era mesmo curioso se Portugal tivesse perdido o Brasil naquela altura, de certeza que as coisas não ficariam muito bem lá no Reino, sempre dependente da riqueza da sua mais abastada colônia. E por aqui era a oportunidade de começarmos mais cedo uma história ditada por nós mesmos, mas não vale lamentar, é preciso ver que os feitos grandiosos são engendrados de tentativas assim: sinceras.
Hoje em dia, deparamo-nos com muita gente que faz as releituras da história e vêem a Inconfidência como uma mentira, mas o dizem por opinões e conclusões infundadas antes de o fazerem pelos factos, o que torna uma tolice, uma grande tolice desacreditar por desacreditar como fazem. Deviam antes ler o "Romanceiro da Inconfidência" e aprenderem que os sonhos valem a vida porque dão sentido a ela, como bem sabiam aqueles que nos deram o nosso país, e por serem de todo coração justos e honestos é que não foram, bem como não são nunca, em vão.