Lembra, Quelzinha?
A vizinha anciã e eu partilhamos o amor pelo futebol, especialmente por esse clube cheio de qualidades notáveis e que mais agora no fim de semana deu-nos uma pequena alegria. Afinal o nosso Vasco da Gama, grandioso clube, vitorioso na terra e no mar, havia assumido a liderança do campeonato brasileiro no Sábado e numa homenagem singela, assim começou a sessão desportiva do primeiro noticiário da rádio Cidade FM.
Sorri e a pequena lembrança de alegria suavizou por um instante a anunciação do adeus que houve no fim de semana, quando houve os últimos concertos de outra instituição carioca da minha mais alta estima, os Los Hermanos.
Tocaram na Fundição Progresso, no boêmio bairro carioca da Lapa, na Sexta-feira e no Sábado, ambos os concertos com bilhetes esgotados com mais de duas semanas de antecedência.
Por serem as últimas apresentações da banda, gente de todo país compareceu, do norte ao sul, caravanas formaram-se e, digamos assim pela devoção dos fãs, peregrinaram à Cidade Maravilhosa. Cheios de pena mas também de ansiedade, foram cantando junto da banda os hinos do amor, da contemplação, da separação, do acaso, do horizonte distante que a gente quer tanto ver e que teima tanto em sumir da vista.
Levaram cartazes, choraram, gritaram: "Não parem, esqueçam isso de recesso, quem dá tempo é relógio!", como um namorado que não aceita a separação, mas é tudo inútil, sentença assinada. O fato é que cansaram-se daquilo. Agora é questão de minutos, chega a última música do último concerto: "Todo carnaval tem seu fim", dificilmente outra poderia ser mais apropriada. E foi o fim e brincamos de ser felizes.
Com o pensamento pleno do significado dessas coisas, refleti como foram maduros de escolher fazer o mais difícil mas que era o mais honesto com eles mesmos. Não deixei entretanto de ficar triste, de uma tristeza própria de quem se despede de um amigo que vai embora e Deus sabe se volta. Foram-se e levaram as guitarras consigo.
No Domingo de ressaca, fiz piada de tudo e nem considerei muito bem, mas à noite coisas se passaram e do infinito do mistério vieram sonhos maus, cheios de caretas e gente bêbada a chorar pelos cantos, de donzelas envelhecidas e piadas sem graça nenhuma, eu tentava me levantar da mítica mesa de bar onde era acompanhado por estranhas figuras e logo quando levantava para ajeitar meu belo fraque e assentar a cartola na cabeça, apanhavam-me com uma bengala gigante e davam-me uma dose dupla de whisky com gelo: "Vamos celebrar a tristeza, poeta!"
Quando amanheceu ao som do hino do Gigante da Colina eu fiquei algo consolado da angústia de dizer adeus, e com um sorriso surreal na cara, olhei deboxadamente para o teto do quarto e dei bom dia à tristeza.
Bem à maneira da gente que habituou-se a acordar muito cedo toda a vida e depois que isso não tem mais necessidade continua com o hábito, ligou o rádio a vizinha dona Margarida às habituais 5:40 horas da manhã.
Veio de lá o som de um hino que fez arrepiar todos os pêlos do corpo:
Veio de lá o som de um hino que fez arrepiar todos os pêlos do corpo:
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"Vamos todos cantar de coração,
A cruz de malta é o meu pendão!
Tu tens o nome do heróico português,
Vasco da Gama tua fama assim se fez!
(...)"
A cruz de malta é o meu pendão!
Tu tens o nome do heróico português,
Vasco da Gama tua fama assim se fez!
(...)"
A vizinha anciã e eu partilhamos o amor pelo futebol, especialmente por esse clube cheio de qualidades notáveis e que mais agora no fim de semana deu-nos uma pequena alegria. Afinal o nosso Vasco da Gama, grandioso clube, vitorioso na terra e no mar, havia assumido a liderança do campeonato brasileiro no Sábado e numa homenagem singela, assim começou a sessão desportiva do primeiro noticiário da rádio Cidade FM.
Sorri e a pequena lembrança de alegria suavizou por um instante a anunciação do adeus que houve no fim de semana, quando houve os últimos concertos de outra instituição carioca da minha mais alta estima, os Los Hermanos.
Tocaram na Fundição Progresso, no boêmio bairro carioca da Lapa, na Sexta-feira e no Sábado, ambos os concertos com bilhetes esgotados com mais de duas semanas de antecedência.
Por serem as últimas apresentações da banda, gente de todo país compareceu, do norte ao sul, caravanas formaram-se e, digamos assim pela devoção dos fãs, peregrinaram à Cidade Maravilhosa. Cheios de pena mas também de ansiedade, foram cantando junto da banda os hinos do amor, da contemplação, da separação, do acaso, do horizonte distante que a gente quer tanto ver e que teima tanto em sumir da vista.
Levaram cartazes, choraram, gritaram: "Não parem, esqueçam isso de recesso, quem dá tempo é relógio!", como um namorado que não aceita a separação, mas é tudo inútil, sentença assinada. O fato é que cansaram-se daquilo. Agora é questão de minutos, chega a última música do último concerto: "Todo carnaval tem seu fim", dificilmente outra poderia ser mais apropriada. E foi o fim e brincamos de ser felizes.
Com o pensamento pleno do significado dessas coisas, refleti como foram maduros de escolher fazer o mais difícil mas que era o mais honesto com eles mesmos. Não deixei entretanto de ficar triste, de uma tristeza própria de quem se despede de um amigo que vai embora e Deus sabe se volta. Foram-se e levaram as guitarras consigo.
No Domingo de ressaca, fiz piada de tudo e nem considerei muito bem, mas à noite coisas se passaram e do infinito do mistério vieram sonhos maus, cheios de caretas e gente bêbada a chorar pelos cantos, de donzelas envelhecidas e piadas sem graça nenhuma, eu tentava me levantar da mítica mesa de bar onde era acompanhado por estranhas figuras e logo quando levantava para ajeitar meu belo fraque e assentar a cartola na cabeça, apanhavam-me com uma bengala gigante e davam-me uma dose dupla de whisky com gelo: "Vamos celebrar a tristeza, poeta!"
Quando amanheceu ao som do hino do Gigante da Colina eu fiquei algo consolado da angústia de dizer adeus, e com um sorriso surreal na cara, olhei deboxadamente para o teto do quarto e dei bom dia à tristeza.