terça-feira, abril 14, 2009

Não é fácil...

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

(...)

Soneto de Aniversário, Vinicius de Moraes



Após um longuíssimo repouso, retorna a vida ao Colégio da Trindade, em Coimbra. O quarteirão inteiro que o velho edifício ocupa entre a Faculdade de Direito e a Couraça de Lisboa será o endereço do Tribunal Universitário Europeu, agora já em construção, como bem o sabem os passarinhos das árvores próximas e os turistas que espiam a obra a partir do pátio das escolas. Eu a observo da Sala do Mestrado, no Colégio de São Pedro, onde se defende tradicionalmente os relatórios e onde há uma pequena sacada que proporciona uma vista objectiva do velho colégio.
Sempre me chamou a atenção o facto das suas ruinas ali estarem, em meio à opulência do resto da universidade, do que me foi explicado que o dono não quis negociar o imóvel na altura em que o Estado Novo destruiu metade da alta de Coimbra para ampliar a universidade. Assim, desde o final dos anos de 1940 até o início dos anos de 1970, o Colégio da Trindade perseverou sem grandes reformas, tendo por último servido como residência até quando já não mais aguentava a sua decrepta estrutura, enquanto no seu entorno tudo era ampliado, aumentado e melhorado para o crescimento da universidade.
O dia, entretanto, chegou, como acima já foi anunciado. Afinal, o Colégio da Trindade vai ter destino ainda mais nobre que os seus congêneres da primeira infância da academia portuguesa, quando foram dadas as primeiras aulas, há mais de 700 anos.
Era bom se fôssemos como os prédios antigos e a nossa paciência fosse muito mais do que a condição humana nos permite. É pena que na nossa condição seja difícil ver que a redenção sempre nos alcança enquanto nos mantivermos de pé e com alguma dignidade na cara.
Os dias trazem a todos coisas novas, surpresas novas, idades novas. É bom ficar mais velho sem deixar envelhecer o amor, sem torná-lo amargo e desconfiado, sem contrariá-lo, sem desacreditá-lo. É a fé na sua graça, a sua parte mais íntima em nós, que o faz ser sempre belo e potente, como da verdadeira primeira vez.
É como tentam fazer ao Colégio da Trindade: ao invés de deitar todas as ruinas abaixo e construir um prédio novo e moderno, preservam tudo o que podem e das velhas fundações medievais vai se levantar um edifício recomposto em facilidades e propósitos. No fundo, ainda vai guardar os traços mais basilares da sua natureza, a gradação mais profunda da sua verdade, afinal, redimida.