Ai de quem gritar outro nome! Não há, meus amigos, não há desejo nenhum maior do que o de ser livre. Podem tirar do homem os seus bens, o seu conforto e até o futebol aos domingos, mas é sempre demasiado cruel retirar-lhe a capacidade de decidir por si e assim, por ele mesmo, definir o seu destino, a sua fortuna, pelas suas próprias escolhas.
O amor à liberdade tem subido às cabeças e as vidas de milhões de jovens foram sacrificadas nas guerras do século passado (e de tantos séculos antes...) em defesa desse ideal.
Hoje é o dia de Tiradentes, o meu herói. Um homem que de seu, além dos instrumentos de dentista e de umas poucas mudas de roupa, tinha o ideal da liberdade a arder a cada respiração sua. Queria-a para si, mas também a queria para todos os outros e, principalmente para sua pátria. Traído por duas vezes, preso e quando do seu julgamento, quando confrontado com a possibilidade de trocar uma sentença de morte por uma de degredo no caso de negar a sua fé na independência do Brasil e jurar fidelidade à D. Maria I, preferiu sacrificar a própria vida do que negar aquilo que lhe dava mais sentido. Fê-lo honradamente, com a sua dignidade revolucionária que tantos outros contagiou mas que esses não partilharam ao ponto de partilhar com ele o mesmo destino e, por isso mesmo, ele é que é o herói que merece ser lembrado e, mais ainda, reverencidado pelo legado que nos deixou.
Curiosamente, nessa mesma semana comemora-se um outro dia de orgulho para a liberdade do mundo. Há quase 35 anos, jovens oficiais das forças armadas portuguesas, em associação com diferentes forças da sociedade e expressando um desejo uníssono do povo português, resolveram terminar com uma ditadura despótica e envelhecida, uma que privava as mulheres do direito de voto e que tinha lançado a juventude portuguesa ao sacrifício vão de uma guerra injusta por longos 13 anos. O 25 de Abril trouxe liberdade política à Portugal e às antigas colónias, que foram libertas do julgo da metrópole, mas não só isso, trouxe consigo uma corrente morna, embuída de convicto cheiro de cravos, de que era possível ter esperança em uma vida mais feliz e mais digna, em que os destinos que se revelassem, bons ou maus, teriam sido aqueles que foram escolhidos pelas pessoas, em liberdade, e não por qualquer outro que quisesse decidir por elas.
Essa corrente de sentimento ainda circula por esse valente e heróico país. Está nas mentes e nos corações, a impulsionar a todos com a sua força vibrante, a redimir das misérias, a trazer esperança quando das tristezas no seu significado de amor à liberdade e por isso, deve ser celebrado sempre.
Nesse 25 de Abril, mais que nos outros dias todos do ano, lembremo-nos daqueles que viveram sob a repressão e a tirania e sofreram-nas para que hoje pudéssemos escolher por nós mesmos, mas lembremos sobretudo de que o que moveu aqueles revolucionários de 1974, como aqueles que Tiradentes liderou em 1789, foi o mesmo e mais profundo desejo da alma humana que é desejo de ser livre.
Aos exemplos dos nossos heróis, a coragem para levar a cabo as nossas revoluções particulares para nos libertar das opressões que magoam e, por fim, ter coragem para dar efeito ao que nos pede o coração para fazer, sentir e viver.