É uma loja que fica em frente ao Arco de Almedina, portal que sustenta a última das sete torres erguidas por Afonso Henriques para proteger a citadela da Alta de Coimbra.
O emblemático passado daquela zona não comunica muito mais ao comércio, anestesiado pelas grandes superfícies, mas ainda muito preguiçoso para reagir. Logo serão os próximos a pedir auxílios do Estado por terem sido "devorados pela crise".
Voltando ao sítio em questão. Fica em frente ao Arco de Almedina. É uma loja de peças em couro, mas não estamos a falar de selas de cavalo ou tapetes de pele de tigre, mas sim do mais fino couro para botas, bolsas e casacos.
É tanto couro junto que o cheiro distinto remeteu pra uma outra linda loja, noutras paragens, mas igualmente impressionante, onde me tinham mandado escolher o casaco que quisesse. Fora então o dia dos meus anos.
Por tantos anos tive aquele casaco sobre os ombros como que a vestir um comprometimento com um futuro que hoje se faz presente e dele sobra essa saudade maio sem pai nem mãe. Sem saber bem a que se refere, ele existe, como um enfeite no meio da sala que faz alguma boa figura, embora não comunique nenhuma ideia ou lembrança, não signifique muita coisa mais.
Comprei um novo casaco, feito na Índia, espero eu que não por crianças famintas, e com um toque macio à sua pele de ovelha, sendo assim mais confortável que o anterior e mais leve. Sim, mais leve. Quando a vida nos deita à frente o mais escabroso dos problemas, a mais espinhosa das situações, é a hora de ter a serenidade necessária para saber o que fazer e ter muito peso nos ombros não ajuda muito!
Antes como agora, o nariz aponta pra frente, sem medos ou receios de se comprometer e fazer desse grande palco de loucos um exercício útil para alguém mais que eu mesmo na satisfação dos meus caprichos particulares, bravura de ver no horizonte uma linha a desaparecer, sem montanhas com o dedo em riste e sem o peso meu velho casaco de couro a fazer pender para frente.