Enquanto os jornais de Coimbra criticam o cortejo da latada desse ano pela falta de consistência, perdendo folhas de papel com esses apontamentos ingratos, soube a mim, como a muitos outros, se calhar, um gosto de nostalgia demasiado forte para qualquer observação agressiva.
Já não tive ao meu lado os meus colegas tão queridos, cuja ausência nesse ano ressona tão alto nos meus ouvidos e salta para cima dos meus olhos em momentos como esse.
Daquela vez no ano passado tínhamos corrido as ruas com um grupo de estudantes do segundo ano do curso de direito para arranjar-lhes uns nabos para seus caloiros. Logo passadas umas horas, éramos já nós os que trincavam o legume. Como um rio de carrinhos de supermercado, caloiros de meias-calça rasgadas e sutiens e doutores desbatinados, fomos chegando à baixa para, por fim, dar o banho do baptismo aos novos estudantes, passavam a ser de cá de Coimbra então, se calhar também nós passamos a ser.
Embora houvesse em tudo semelhança, e talvez, é possível, alguma superioridade ao desfile anterior, já não pareceu tão engraçado. A mim faltou-lhe aquela despreocupação para me entreter e sorrir, já agora há tanto por fazer!
De todo jeito o meu coração foi muito alegre nos instantes que lá estive, do que sem nenhum exagero é o meu dia favorito em Coimbra em todo o ano, o do cortejo da latada. E isso explico pelo seguinte: já não há mais eventos como esse, em que o que importa mesmo é a amizade, a integração dos mais velhos e dos mais novos, desprovido de interesse económico. Os concertos no recinto (a preços de 12€ no fim de semana apenas para entrar) infelizmente converteram-se na forma de a Associação Académica de Coimbra fazer bons contratos com as marcas de cerveja e com os que querem lá ter uma lanchonete, para além dos patrocínios dos media e de empresas. Muito há que se dizer desses contratos, tanto nessa altura da latada quanto na da queima das fitas!
De tudo em tudo, o cortejo da latada permanece aquela coisa simples e feita em casa, sem grandes pretensões, embora extremamente bonito e sincero, pleno de alegria e movido cidade abaixo, rumo ao Mondego, pelo coração uníssono de todos os estudantes.