Gente a sorrir de felicidade e alívio. Não foi outra coisa que se viu no Mineirão no dia 20 de novembro. Enquanto os jogadores do Clube Atlético Mineiro esforçavam-se para garantir a vitória pelo placar mínimo, a imensa torcida suava junta, berrava e quase todos bastante bêbados, chingavam os adversários e o árbitro em gestos deselegantes para uma igreja ou um restaurante sociável, mas necessários a uma batalha verbal e apaixonada como a que se travou entre o Galo e o Coritiba: sem parar um instante de torcer e apoiar a equipe, sempre cantando o hino e com fé na vitória, a massa de atleticanos foi muito feliz nesse dia, de uma alegria pura e emocionante na sua sinceridade sem interesses. Uma das faixas foi emblemática desse sentimento, trazia o escudo do Atlético em forma de coração e em letras imensas dizia: "meu Galo, minha vida".
Lambão e generoso com os inimigos durante quase todo o campeonato brasileiro de 2005, o time do Galo encontra-se em estado de perigo, sob risco de ser rebaixado à segunda divisão do futebol do Brasil. Resultado alcançado por jogadores desmotivados, sem amor à camisa e mais que tudo por planejamento mal feito, o 1º campeão brasileiro agoniza tristemente.
No domingo, entretanto, houve algum alento: após duas boas vitórias longe de Belo Horizonte, contra o Paysandu e o Fluminense, foi a vez de vencer o Coritiba em casa para deixar a última posição do campeonato, mas ainda não a zona de rebaixamento, da qual tem que se livrar com uma combinação prodigiosa de resultados junto da série contínua de mais duas vitórias, contra o Clube de Regatas Vasco da Gama em Belo Horizonte e contra o Juventude em Caxias do Sul. Tarefa ingrata, a tomar-se pela fama de algoz que sempre faz valer o time da cruz de malta.
Isso tudo, entretanto, interessa muito mais aos matemáticos e dirigentes, além dos próprios jogadores, do que precisamente à torcida que encheu o estádio no domingo.
Entre os quase 40.000 torcedores, muitos havia que tinham tomado três ônibus, gastando mais de 2 horas para chegar, voltando para casa perto das 10 da noite, tendo que levantar às 4 e meia no outro dia para retomar a labuta. Mas naquelas horas de sacrifício que se seguiriam depois, quanta felicidade anestesiava ao relembrar o gol do Atlético e a certeza íntima e sagrada, inconfessável aos mais reservados, de que sua presença foi essencial à vitória, de que seu grito e seu sorriso alegraram os desmotivados, de que o Galo forte vingador que cantou tantas vezes junto da letra do hino, só existe enquanto time e torcida ungidos na fé neles mesmos e no futebol como desporto símbolo da virilidade, da amizade e da luta! Desta forma, os atleticanos fazem valer o seu ideal de vencer e de honrar o nome de Minas.