segunda-feira, novembro 28, 2005

O mundo todo é hostil

Pátria do mundo, eis a melhor definição do Brasil. Aqui há gente de todo lado, claro, mais brancos e pretos que de outra etnias, mas também acha-se amarelos, principalmente a vender pastéis e nas lavanderias e, claro, vendendo contrabando!
Os séculos de opressão contra o Brasil foram suficientes para, nesse tempo em que não existe sonho socialista possível a fazer frente ao sistema de exploração do homem pelo homem, insentivar um revanchismo tolo e cruel em muitos aspectos. Vivemos um tempo em que a fraternidade não é possível, não a pura fraternidade, de querer bem aos outros por convicção. É preciso querer bem ao próximo por obrigação.
Deste modo, o Estado brasileiro, como tantos outros, cria e implanta programas, leis, regras de comportamento dos funcionários e repartições públicas para implantar a fraternidade. Como eu disse antes, é uma política compensatória de fraternidade. Compensa-se aos negros por terem sido escravos, compensa-se as mulheres por terem sido subjugadas, compensa-se os paralíticos e outros deficientes por razões óbvias, compensa-se os velhos e crianças, por não terem forças suficientes para enfim deixarem de ser compensados!
Outra grande falácia do estado é o serviço de correios e telégrafos: no horário de almoço deviam estar com todos os guichês a atender, mas não é isso o que acontece, como ocorreu comigo no horário de almoço.
Tinha 15 minutos para postar uma correspondência. Pois bem, parece tempo suficiente, mas não quando se quer um regime de fraternidade obrigatória! Explico-me: com grande gentileza e calma, perguntei à atendente se tinha que ir à fila para comprar um selo postal que custa R 0,55. Sua resposta foi : "Claro! A fila é igual para todos!" Sua rispidez me assustou, mas retomei meu lugar na fila agradecendo. 25 minutos depois fui atendido e chegou junto de mim uma senhora que quis comprar três selos do que a atendente prontamente interrompeu meu atendimento e vendeu-lhe os selos sem sequer pedir-me licença. Indaguei dessa sua atitude, mas ela não respondeu de imediato, disse antes que não iria postar a carta porque o código postal estava errado, mas que iria me vender o selo e colou-o no envelope antes que eu a pudesse impedir. No fim disse ainda que eu não lhe deveria chamar a atenção porque a mulher era idosa e eu não, daí sua preferência, eu esclareci que tinha feito uma pergunta apenas e lhe recordei que tinha dito que a fila era igual para todos.
Fato é que, parafraseando George Orwell, uns são mais iguais que os outros! E para promover essa igualdade não se organizam debates públicos, não se incentiva o desapego do individualismo (fatal para o sistema de exploração do homem pelo homem), não se investe nas escolas públicas, nem se incentiva o povo a amar sinceramente. Tenta-se a fraternidade pela força, como um paradoxo difícil de engolir, louco como nosso tempo, cambaleante como o melhor whisky.
Não digo que velhos não mereçam cuidados especiais, principalmente mensalidades menores dos planos de saúde! Mas não os dispensaria de atividades que são plenamente aptos a realizar. Da mesma forma, cotas para negros em universidades públicas e idade menor para aposentadoria das mulheres: benefícios que não se justificam gratuitamente.
É deprimente que o Estado se debruce nessas compensações, onerando financeira e psicologicamente a parcela produtiva da população, como se estivesse a pagar uma "dívida" e ainda mais deprimente é o fato desses "beneficiados" calarem-se sobre seu desmerecimento particular para recebê-las.
Se todos não fossem tão agressivos para implantar a fraternidade, sob o prisma de uma desforra ancestral nada mais nobre que as velhas opressões, talvez ela fosse mais possível e enfim surgisse por si mesma.