A praça da liberdade já está bonitamente adornada para o Natal! Cuidou com capricho o governo estadual e a companhia de luz de Minas Gerais de fazer da alameda que corta a praça, ligando em linha reta o fim da rua João Pinheiro e as portas do Palácio da Liberdade, o passeio do amor, visto que há corações luminosos em fila. O restante da praça também está decorada, mas com luzinhas normais, sem atropelos maiores, numa harmonia que é bonita, porque nesses dias de chuva sua luz reflete no parelepídedo molhado, deixando tudo pleno do espírito de esperança que o nascimento do Salvador faz renovar.
Talvez tenha ficado parecido com bandeirolas de festas juninas... enfim, originalidade é, antes de tudo, não ter vergonha de ser como se é, e somos mineiros.
Também na praça Sete de Setembro e na rua Rio de Janeiro há decoração, esta providenciada pelo Município. Muito feinha, infelizmente. Junto à mendicância local e a pressa dos transeuntes, somado a isso, o aspecto de decadência do centro da cidade faz parecer que o adorno é um deboche.
A poucas quadras de distância um lugar do outro: um majestoso e romântico o outro de mal gosto, debochado, ambos remetem a um novo natal e a mais um natal.
Enquanto novo e cheio de esperança, o natal aproxima-se em espectativas boas de seu significado, boa nova, enfim. Já como mais um natal, estima-se o pesar consumista da data, com significados superficiais, marcado por comemorações do comércio que pela data esperava salivando, marcado ainda pelas campanhas filantrópica circunstânciais que nada resolvem em definitivo, assim, é mais um natal.
Lamentem ou não, o povo não pratica religião com tanta devoção como já se fez um dia. Claro que há igrejas cheias e somos em maioria absoluta cristãos, mas aquela devoção natural, aquela fé cheia de amor, isso não vejo, principalmente não vejo a identificação desse amor à Deus e o natal, justamente expressão da verdadeira fé.
Hodiernamente, a cultura de consumo elenca como valores as piadas rápidas e divertidas, mesmo que imorais, e a ostentação. Deus não gera lucros senão para essas pseudo religiões que promovem a chamada "extorsão da fé" com suas absurdas cobranças de dízimos, protegidas pela proteção constitucional à liberdade de culto, mas esses abusos logo serão cerceados. Com exceção, portanto, dos "extorquidores da fé" e talvez das livrarias religiosas, Deus não dá muito lucro. Mitos vindos da religião, entretanto.
Assim se dá com a Páscoa em alguma escala, mas sobretudo com o Natal. Enraizadas no gosto popular justamente pela fé que simbolizam no Novo Testamento, qual seja, a da paixão do Salvador e de seu nascimento, respectivamente, essas datas lembram apenas palidamente esses momentos, sobretudo quando das reportagens sobre presépios feitos de algum material curioso ou da encenação da crucificação por algum filipino radical.
Vivemos o tempo de ser filho do amor e da ira, com a decadência dos seculares conceitos morais para emersão uma ética sem balizas visíveis em que os pobres, também acometidos no íntimo pelo falta de prática da religião, enxergam mais claramente sua situação de submissão e exclusão, talvez aqui a única conseqüência boa do "mais um natal", mas ainda assim é ruim, pois se por um lado não são apaixonados por Deus, por outro são apaixonados por consumir, como toda gente, e daí sua falta de fé só serve para romper as amarras que a piedade coloca à violência.
Gosto dos corações luminosos na praça da Liberdade, não é decoração de centro comercial, é símbolo do amor, mas nem todos vêem assim. Talvez se houvesse lojas na praça parecesse menos estranho a esses mais radicais consumistas de natal.
Nesse novo natal, que todos renovem seus votos de amor ao próximo, de mitigação do egoísmo, de devoção à verdade, ao perdão e à humildade: foi a isso que veio o menino que nasceu no dia 25 e é isso que se deve celebrar.