De longe, do outro lado da rua, vi uma moça a sorrir para mim e assim, como que intrigado com aquilo sorri de volta esperando perceber o que se tratava e reconheci imediatamente que tratava-se de uma amiga querido, que já há algum tempo não via.
Ela seguiu seu percurso, também eu segui o meu, mas acho que ambos, após aqueles acenos, seguimos diferentes.
Como as marcas dos pés pelo caminho maleável, também caminhou por cima de mim aquela presença, de corpo pesado, de simbologia rica e marcados traços inesquecíveis, traços de quem sabe amar à absurda potência de não mais medir, de quem soube arranhar e depois encobrir delicados palmos de coração puro.
Conseguiu finalmente sair da casa dos pais, sonho antigo que já nutria, para hoje ir viver em Ouro Preto, onde estuda história, querendo, entretanto, ser psicóloga, paradoxos sem nexo, tão típicos que quase dão tédio, não fosse a constante do seu encanto mágico e o despudor da sua coragem, generosa areia de colorir nas cenas bem compostas em que despreza os que se aproximam demais.
Imagino a composição delicada da sua presença em Ouro Preto, sua vida em Mariana... seu respeito pelo órgão que a matriz guarda, preciosidade da primeira cidade de Minas, assim como seu bem estar na praça próxima ao bispado, suas reflexões a caminho e junto da igreja do Rosário, tão simples e tão feia... Em Vila Rica imagino-a a se misturar com a beleza da cidade, com a desenvolutra das ruas, a certeza dos cheiros, a boa ostentação de não ser rei mas ainda ter toda a majestade. Eu, que tantas vezes contei pra ela da mística dessa cidade, fico agora imaginando-a nos caminhos que emoldurarm meus sonhos mais felizes.
Meu encontro, a fazer mais fundo esse e tantos desencontros, foi da mais genuina nostalgia que se pode imaginar. Foi bom ver marte a olho nu no horto florestal e conversar sobre julgar os outros. Curtia imenso as formas da sua mão, aturava seus discos baratos tentando doutriná-la a ser menos agressiva, andávamos então compassados, como um buquê bem costurado, fazia boa figura ver-nos juntos.
Na rua, assim separados, pessoas já tão diferentes, talvez teria sido melhor chorar, pois não havia mais graça em nós, havia esta forma de aparência, que traz consigo um memória, este algo que com mais certeza pode-se considerar o que fui e o que minha amiga foi.
Imaginando o contrangimento que seria chorar em público, ela, muito coerentemente, preferiu sorrir, forçando talvez alegria, e eu, bem mais de surpresa do que pela reação adequada, sorri de volta, mais comedido.