terça-feira, outubro 26, 2010
Hey, you!
terça-feira, outubro 12, 2010
Viva o Rei!
A forma republicana não é ruim, na sua essência, nem os princípios republicanos são ruins. Mas quando falamos dos Estados nacionais, ou seja, dos países que reúnem um só povo, com uma identidade étnica, religiosa e linguística, não acredito que a república seja uma forma de estado melhor que a monarquia.
Antes de mais, porque a monarquia não é oposto da república e dos seus princípios. Na monarquia constitucional o soberano não é monarca, mas sim o povo, a quem o Rei representa. Com mais legitimidade que qualquer presidente, o Rei deve defender os valores nacionais, a sua identidade, o seu destino manifesto. Assim, a monarquia não é anti-republicana, mas sim mais republicana do que a república, uma vez que também abraça o respeito pelos ideais de igualdade entre os homens e da boa gerência dos dinheiros públicos, com a vantagem de não trazer em si a pressa das realizações com fins popularistas ou a endêmica corrupção da república.
Em Portugal e no Brasil instalaram-se repúblicas tenebrosas, assentadas na força bruta e na ignorância do povo, assassinaram um rei e expulsaram um outro que tinha servido o país por 50 anos para que morresse quase abandonado num hotel de Paris.
Nos dois lados do atlântico, a república serviu aos grupos sociais emergentes para apossarem-se do poder do Estado sem ter que dar satisfações ao fiscal real que não permitiria os seus abusos e desmandos. Foi assim que o século XX será sempre lembrado pelas estúpidas ditaduras que forçaram Portugal e o Brasil aos grilhões da obscuridade e da censura.
A forma republicana foi, portanto, um meio eficaz para iludir os espíritos que pediam mudanças mas sem, de facto, promovê-las. No Brasil tivemos o caso exemplar de Rui Barbosa, que chegou a discursar a favor da república, mas que depois de implantada à força e sem participação popular, viu que nada mudaria, pois os problemas do país não estavam no seu monarca, mas sim em questões estruturais que teriam de ser enfrentadas com trabalho e não com um covarde golpe de Estado.
Há poucos dias vimos o deprimente espetáculo que foram as festividades pelos 100 anos da república em Portugal. Mas festejar o que? As ditaduras que vieram a substituir a democracia dos tempos dos reis? A falta de liberdade de expressão que foi implantada para calar os que contestavam os desmandos? A corrupação que premiava os filhos dos chefes dos partidos e os amigos dos poderosos do aparelho estatal? Afinal, a república vem custar ao povo muito mais, incalculavemente mais do que a monarquia, com o ônus acrescido da sua ilegitimidade.
Todo o quadro fica ainda mais triste de se admirar quando recordamos que Portugal é o mais antigo Estado nacional do mundo, fundado sob a coroa de Dom Afonso Henriques, que conquistou essas terras a lutar cara a cara com os mouros invasores.
Assim como Barbosa, um dos mais destacados intelectuais brasileiros de sempre, se retratou e passou a defender a monarquia pelo resto da sua vida, também é hora desta multidão de indiferentes acordar para a realidade e banir de vez essa escumalha republicana cujo único e perene ideal é espoliar o dinheiro dos impostos ao seu próprio bem e dos seus comparsas e parentes.
Abaixo a república!
Viva o Rei!
sexta-feira, agosto 13, 2010
O poeta e eu
Embebido no sonho, lá dentro do mundo fantástico que os sentimentos e a razão constroem para nos fazer quem somos, estive com o poeta maior para lhe criticar a arte, na infinita coragem de instrumentalizar a vida para dar passagem à poesia: o oposto do que toda a gente faz. E nesse aproximar da destruição, se calhar, é que existia a sua magnânima grandeza.
Convidou-me depois para almoçar em sua casa, e na intimidade era afinal tímido e precisava de de muito gin (por acaso não me lembro de ver nenhum whiskey) para sorrir e brincar. Eu era ali um estranho e nem compreendi bem por que me haveria de ter feito o convite, mas depois, a pouco e pouco, foi bem vista a razão: mostrava-me ele, o poeta, o caminho meu que já foi o dele e eu então percebi o porquê das decisões e num rompante imenso de lirismo, vi os rostos de toda a gente que por pouco que fosse já me tocara a alma.
O dia amanhecido foi uma identificação das novas certezas, mas da maneira doce que a falta de obrigações ou imposições conhece.
Vi com mais vigor os traços do meu avô materno nos meus próprios, no meu cabelo e no meu olhar e senti fundo as tradições daquela raça que em mim vingou mais que nos outros e que faz lembrar tempos que já vão tão longe e quando era preciso muita coragem, muita força e uma resistência brutal para que a vida não fosse um exercício de submissão que levava à morte.
Já então nenhuma das minhas decisões parecia mais despropositada e nem havia saudades, nem raivas e nem remorços de nada e nem de ninguém. Apenas uma lembrança de mim mesmo sempre mais clara e que eu não posso, mesmo agora, deixar de estranhar de todo.
Seja lá como for, a simplicidade e a timidez do poeta mostraram-me um caminho que sempre tive comigo, mas que nunca tinha tido a audácia de fazer abrir-se diante de mim, mas que está aberto para a frente, para o futuro.
A bênção, Vinicius.
quinta-feira, junho 17, 2010
Olhos nos olhos
Não diria que Deus é vingativo, como muita gente gosta de dizer. Diria que as coisas que fazemos voltam para nós mesmos, as boas e as más. Antes de acreditar que a infinita bondade e o infinito amor que é Deus são responsáveis por essas maçadas da vida, antes vale ver o caminho por onde se anda, especialmente aqueles sítios onde ao invés do sacrifício para o bem comum, foi visado só um interesse pessoal e egoístico, onde ao invés de esperança e fé, deu-se lugar ao oportunismo e a leviandade, onde a humilhação e a opressão impunham perseverança, deu-se lugar a uma desistência fraca e uma retirada em precipitação.
É um longo caminho por onde passamos, a nossa vida. Vejo-o nos gatos de rua que moram aqui em frente de casa. Se de manhã matam-se a miar pelo pequeno almoço trazido pela dona Fernanda, ao meio da tarde, quando vem o sol quente, desaparecem para algum refúgio fresco, suspeito eu, longe dessas paragens. Mas depois que o sol esmorece, voltam mansinhos a ocupar as suas posições de costume. Fazem da vida essa rotina de estar juntos, nem sempre a lamber-se, mas certamente sempre a contar uns com os outros. Um é chefe e dá as ordens. Os outros obedecem ou então levam na cabeça, que é para aprender de uma vez.
Na sua charmosa bestialidade, os gatos em muito mostram o nosso comportamento (com vantagens notáveis, é verdade: a liberdade, a graça, o desprendimento, a sutileza, etc.). De certo que ignoram de todo a existência de Deus e no alto da sua consciência animal, o certo e o errado levam ao limite do convívio social e da sobrevivência na sua sociedade patriarcal. Todos se submetem as ordens do macho dominante e cada um tem uma função nessa sociedade, porque sabem que juntos tem chances melhores e porque são animais sociáveis, também é verdade.
Ser "esperto como os gatos" talvez também passe por aí. Saber que os verdadeiros vencedores são todos "team players", ou seja, não há êxito verdadeiro quando se mira só o próprio umbigo: vão faltar apoios, vão faltar motivos, vão faltar alegrias.
Sintomático de que o homem (e também a mulher, por que não?!) deve voltar-se para fora de si mesmo é esse magnífico evento: o mundial de futebol, ou a Copa do Mundo. Assim como os gatos que protegem-se uns aos outros, uns de alerta enquanto os outros dormem, também a equipa que vai vencer esse torneio contará com jogadores que salvaguardam as costas dos outros. O gato que conquista um belo petisco não pode tê-lo só para si: sabe que a boa nutrição do grupo é que vai lhe garantir boas performances amanhã. Também o avançado que não passa a bola para o companheiro melhor posicionado para marcar vai ter menos hipóteses de ver sua equipa sair vitoriosa.
Assim, o que se passa com os gatos, o que se passa com os futebolistas, passa-se com toda a gente, em todo o lado, da mesma forma. Põe a mente e o coração para fora de ti mesmo e vais ver Deus na plenitude. Não o Deus vingativo e ditador que os pagãos e ateus gostam de pintar, mas o Deus que é amor, caridade e verdade.
Mas se esse discurso filosófico-religioso, com alegorias a gatos e à Copa do Mundo, não te convence, segue o teu caminho reto dentro de ti mesmo, mas saiba que ele conduz a um destino torto.
sexta-feira, maio 28, 2010
Primavera do adeus
quinta-feira, maio 20, 2010
Pedra bruta e envergonhada
sexta-feira, abril 16, 2010
À boa ventura
Há pouco tempo foi o dia dos meus anos, que transcorreu em paz e em boa companhia. Com muito esforço e muito andar (a fim de reunir ingredientes e utensilhos) foi possível preparar o bolo de coco que em duas das minhas festas de aniversário de menino foi servido aos que tiveram a sorte de lá comparecer e me deixar umas boas prendinhas.
A receita, desaparecida com a confeiteira que tinha elaborado a iguaria de então, foi reconstruída com a memória dos meus cinco anos, a falhar um pequeno detalhe com relação à calda da ameixa (que faz da sobremesa um bolo molhado), mas fez-se festa na mesma pelos meus anos completados. Mas eu sempre fico feliz nessa data pela razão inversa: sempre acredito que vai haver ainda muitos e muitos anos a completar.
Quando se faz aniversário, acho eu, deve-se voltar o pensamento para o futuro, e não para o passado. Os futuros aniversários, os futuros presentes, as futuras surpresas, o futuro que guarda a vida, onde cada dia é diferente e embuído de propósito. Por isso é muito triste que uma pessoa complete anos e não tenha um bolo especial para repartir com os seus... Todo aniversariante tem direito a um bolo à medida do seu sonho.
Lembro-me vivamente (tanto quanto da minha festa infantil com bolo de coco) de estar em casa dos avós no dia dos anos do meu avô materno. Sujeito sério e discreto, é claro que nunca ligou para essas tolices, mas eu decidi que ele devia ter um bolo e fiz lá os possíveis para que quando chegasse a casa abrisse um sorriso de aniversariamente como se deve. E assim foi.
Também cruza o pensamento aquele lindo, doce verso que Vinicius escreveu para sua irmã Lygia nos dia dos anos dela, quando os dois eram ainda meninos, quando a poesia cumpria a função de um presente que o pouco dinheiro não permitia dar:
Com o aumento dessa nova estrela
Para a constelação de tua vida.
Um brinde, meus caros! E com vinho verde, que sabe a futuro. Aos anos a vir, de boa ventura, saúde e confiança nas nossas convicções, e também uma fatia de bolo de coco, que é para não deixar esquecer o sabor da alegria de descobrir o futuro.
terça-feira, março 09, 2010
Os meus tios que se foram
Contam-se poucos meses do passamento do meu tio-avô Domingos Ferreira Rios, homem da indústria, proprietário rural e apreciador da cultura cigana.
Acompanhei eu, e acompanhamos todos nós lá de casa, com pesar mas também com uma solidariedade de amigo o seu momento de descanso, após seus seguidos anos a lutar contra problemas de saúde e visível abatimento com que encarava o porvir.
Morreu na velhice, embora tenha tido a inusitada experiência de ser pai já velho, ele se foi tranquilo quanto ao futuro do seu pequeno Rafael. E tranquilos restamos nós, na fé de que a sua alma encontrou o bom caminho para Deus.
Esse pouco tempo que se conta da morte do do meu tio-avô veio a se encurtar de repente com a tragédia que se abateu sobre nós no fim de semana.
Era tarde de domingo quando, numa curva do caminho (esse tortuoso e surpeendente caminho que é a nossa vida) o meu tio Maximiano despistou-se para encontrar a morte às vésperas do seu 60º. aniversário.
Poderia aqui fazer relembrar inúmeros eventos da minha infância e juventude ligados ao meu tio Max. Poderia encher os vossos corações com esse luto que eu sinto e que em alguma medida tem também a serenidade dele. Mas vou dizer o pouco que significa muito.
Foi um homem bom. Nunca obrou o mal, nunca manipulou e nunca utilizou-se da sua posição para seu benefício próprio. Errou, sim, errou, como todos os homens todos os dias erram, mas fê-lo com o coração comprometido com a certeza de que era o melhor.
Foi amoroso com os seus. Sempre preocupado com a sua família, com os seus irmãos, com os seus pais. Um marido que se dizia sortudo, um pai sempre adorado, um avô apaixonado pelas suas meninas.
Foi um bom tio para mim. Honrou o nosso nome no desempenho das altas funções públicas que durante grande parte da sua vida desempenhou. Deixou-me o exemplo do amor pela coisa pública e da caridade para com os menos favorecidos da nossa terra - uma preocupação que quotidianamente ocupa os meus pensamentos.
Não era um homem velho. Era um homem maduro que se preparava para a velhice. Deixou a nossa família novamente órfã de patriarca 23 anos após a morte do meu avô paterno, sempre presente nas suas palavras e no seu coração.
Um coração integralmente livre, que nasceu livre como o vento e que por toda a vida ditou o caminho trilhado na convicção dos melhores valores que também eu recebi e tenho comigo.
Muitos de vocês que lêem essas linhas nunca estiveram com esse típico e bom "miano", mas acreditem que teria sido um gosto. Nós todos bem o sabemos.
Foi para as mãos de Deus e é preciso ter obediência para aceitar a Sua vontade, na confiança da vida eterna e da ressureição da carne.
Pelo descanso das almas dos meus bons tios, homens de bem, orgulho da nossa raça, eu vos peço uma oração sincera.
quinta-feira, fevereiro 11, 2010
Para o Fernando Carvalho
terça-feira, fevereiro 02, 2010
Vai bugiar, meu menino
As palavras estão à disposição de todos, os loucos e os sábios. E assim temos de ver nos entrar pelos ouvidos coisas escabrosas, ou ficar à expectativa de um conforto que não é dado.
Acho bem que é nesse espaço entre o excesso e a falta que se encontra o mistério de viver em sociedade.
Criaturas curiosas e bugiadoras que somos, no interior mais secreto, esse ficar sem saber aguça, esse saber o que não interessa até distrái.
Como um longo e doce passeio pela margem do rio, onde as suas serenas águas passam indiferentes à cidade e aos carros, fico à espera de alguma mensagem, de saber como foi e o que esperam do que vai vir na sua viagem até a foz da Figueira, viagem que é tão boa, bem eu sei.
Mas o rio nada diz que ouvidos como os meus possam ouvir. Vão dizer: é a água a passar, tolo! Não... enganam-se muito os que assim pensam. Há ali pormenores, há ali cores, há ali gente e há ali, portanto, história. O rio sabe, melhor que ninguém, como as coisas são. Está ali a passar a séculos imemoriais e mansamente espera e segue, sem nada dizer do que sabe.
Por vezes confunde-me a sua perene inconstância... é sempre novo a cada novo momento, mas no caminho que segue, na margem que toca, nas gentes que banha e de quem arrasta o pensamento, é sempre o mesmo rio.
Mas na generalidade, os mistérios não assumem essa forma fluvial, antes, estão nas pessoas. Muitas poderiam até ver no rio, antes desse mistério que tudo sabe e nada revela, um óbvio que são obrigadas a tolerar, como os portugueses fazem todos os dias em relação ao seu mentiroso Primeiro Ministro. As pessoas preferem outras pessoas, eis uma verdade imutável.
Mas qual o mistério que há em nós? O que guardamos que nos torna interessantes aos outros? E mais, talvez até mais importante, qual o nosso óbvio repetido e aceito que aborrece, que se intromete pelos olhos e ouvidos dos outros e nos faz o cansativo lugar comum?
Se é o rio testemunha silenciosa, sabe bem que a convicção e a fé, em Deus ou mesmo em um ideal, conduzem as vidas das pessoas que realmente importam, como o fluxo do rio conduz os barcos que na superfície se arriscam.
Nada mais somos do que o exercício das nossas bugiações. A externação do que pensamos e sentimos. Com essa forma de influenciar os outros e se deixar influenciar por eles, fazemos o mundo em que vivemos.
Ao contrário do rio, que tudo sabe, mas nada diz, nós, que temos a pretensão de que sabemos, ao menos podemos falar, comunicar, fazer perceber, a dizer, maravilhar ou aborrecer.
E em alguma medida, essa é a vida que se tem para viver.