quinta-feira, junho 23, 2005

Quando não se morre da doença, morre-se da cura

Um ditado é quase que como uma sentença no aspecto de fazer gelar a coluna, a vantagem sobre a sentença é que os recursos são mais simples, basta ignorar, virar a cara para o ditador e está bem desse jeito. Há um ditado que deixa difícil recorrer, é mais ou menos como o "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", é talvez o equivalente desse nosso lá em Porgual: "quando não se morre da doença, morre-se da cura."
E não é que pode ser verdade? Outro dia uma tia comentava que não valia tratar da gripe, pois se tomando os remédios, melhorava com 5 dias, sem tomar nada melhorava na mesma com 8! Uma bela economia, afinal... Infelizmente eu nunca pude fazer dessa economia, já que as minhas gripes são todas gulosas da minha saúde e sem tratar, convaleço rapidamente. Desse ditado, entretanto, não haveria injeção de Fredamicina com Ozonil que pudesse me safar!
O ditado ganhou hoje uma proporção linda quando foi metaforizado por uma amiga minha quando discutíamos sobre o seu estado sentimental (infelizmente péssimo). Deixei lá a minha esprança que sempre vem um novo amor e tentei consolar, como meus bons amigos fazem comigo, mas a moça tava irredutível e disparou o ditado: quando não se morre da doença, morre-se da cura!
Pois não é que é verdade sobre o ideal do amor? Bem que podia ser se não houvesse a possibilidade de salvar-se. Daí a minha sofrida amiguinha não percebeu mais nada e tive que recapitular os fatos, ora vamos lá: a doença é mesmo essa expectativa de realizar o ideal do amor, essa vontade de amar sinceramente e receber um amor igual, simples de explicar, mas na prática não funciona bem, prova disso é que a cura para a doença, a amada, por mais das vezes acaba por mostrar-se má para o paciente! Daí morre-se da cura, se não tiver antes morrido da doença! Estamos mau então, não há escapatória... Mas não há que achar que todo amor é falho, falso ou tolo... nem por isso, há quem se salva desse destino e não é coisa tão rara assim, ou seja, vive o seu último e definitivo romance.
A amiguinha achou bonita a minha visão romântica do ditado e a maneira que encontrei de ver alternativa à sua sentença pessimista, mas também isso não adiantou para animá-la, fato é que ela precisa correr o risco de morrer pela cura, precisa de uma paixão tão alta e tão forte que esses olhos de choro voltem a brilhar fortemente e sem medo, já que a opção a um novo amor é morrer da frustração de não vivê-lo, da terrível doença das frígidas e das histéricas! E olha que esperar passar pra ver se cura também é uma tola e redonda bobagem, quem acha que faz economia assim por não ir comprar o remédio vai se dar muito mal, a vida não gosta de esperar!
Curem-se logo, meus amigos, procurem uma farmácia e curem-se, isso de viver doente não presta.