sexta-feira, julho 08, 2005

Amélias do meu Brasil

O samba "Ai, que saudades da Amélia" não é só esse hino da submissão feminina como gritam os tontos desse país, antes disso, é uma linda declaração de amor. Na letra o sambista reclama com sua mulher, diz que não sabe o que é consciência, diz que tudo que ver quer, e diz que boa era a Amélia, que passava fome ao seu lado e dizia a ele "meu filho, o que se há de fazer?", ou seja, sente saudades de um amor que era mesmo bonito por ser simples e honesto. Então coloco no subjuntivo para provocar e para me intrigar: não seria melhor se as mocinhas do Brasil fossem mais boazinhas e compreesivas, se tivessem mais persistência em não ter a menor vaidade?
Olha que não tou aqui simplesmente acusando e dizendo, "olha que tolas temos como mulheres nesse país de araque", nem por isso, meus amigos, há mocinhas por essas terras que são a própria doçura encarnada, mulheres finas e ternurentas como sonhou o nosso Álvares de Azevedo nas noites mais insanas, quando ainda se achava que a noiva casta era o sinônimo da esposa santa!
Digo simplesmente que há gente complicando muito as coisas, e vou ser justo afinal: não é só do lado das mocinhas e seus sorrisos e ambições, também, e em maior grau, os rapazinhos têm interesses vários quando colocam os olhos numa mulher. Se acaso deixam-se apaixonar, bom, aconteceu. A moça solta um grande grito: finalmente aconteceu! Noves fora, resta concluir forçosamente que toda gente parece correr em sentidos opostos, quando a grande inteligência pra um amor dar certo é que ambos imitem os cavalos de corrida: corram os dois no mesmo sentido.
Falo aqui da ambição do homem, já que sou um e conheço o suficiente para não falar muita bobagem. As da mulher, bom, elas não são de esconder tanto quanto nós escondemos, basta olhar nos seus olhos e já se vê do que se trata.
Não é lindo apaixonar-se por uma moça que prove aos outros o quanto o homem seduz bem? Linda e simpática, aos amigos inteligentes é também consciente das dores do mundo e articulada, à mãe é a filha de Beltrano! Ao pai tem lindos olhos! Balzac é que estava certo, trata-se da comédia humana, mas não percamos o foco, senão levamos bomba do leitor! Vamos lembrar que o que parece bom hoje pode ser mau amanhã!
Acontece justamente isso com o homem que casa-se com uma moça linda e apenas isso. Fato é que o rapaz foi um tolinho, não ouviu o poeta: "uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza" e reparem na generosidade: qualquer coisa. Infelizmente a grande parte das beldades não tem nada além da beleza e essa é sua desgraça e de quem as ama, a sua gritante pobreza. Quando o marido se dá conta do mau negócio, acaba desfazendo o matrimônio, ou pela decadência na aparência da esposa ou por ter perdido mesmo a paciência.
Outros há que se casam por amor passivo à doce e romântica namorada que já não ama com paixão, mas tem o seu respeito e mais que isso, tem sua amizade. Esses casamentos são os melhores e nesse grupo, creio eu na minha modéstia barata, estão as Amélias, já que os homens gostam dessa disposição da mulher aos seus caprichos. Falta só uma coisinha simples: paixão e uma pitada de falta de razão. Para um homem ambicioso de vida, ingredientes fundamentais, aliás, sua fonte de sua desgraça e perdição.
Se essa doce Amélia souber a mágica de instigar amor e paixão, bom, então caminhamos para a frente: despertando amor, desmontam o que há de mau no homem. Temos a amada, humilde e louca de amor, cercada do que ela dá, querida e adorada. Há uma delícia em se amar mulheres assim, ficam as marcas dos seus dentes (rastros da sua nunca ignorada passagem) e a graça do riso vai demolindo o tempo subjuntivo: não há essa conjugação para elas, só certezas. Também uma medida boa dos medos, portanto, também desaparece: sobra uma mulher de verdade.