Depois de passar por mais de duas centenas de vezes pela frente de um edifício próximo à minha casa, percebi que seu nome é "Turmalinas", fato que ocupou meus pensamentos, sempre a fazer conexões e a buscar sentidos em todas as coisas.
Imaginei que deveria ter sido idéia da construtora ao lançar os apartamentos à venda dar aquele nome, talvez tivesse pensado em batizar o prédio desta maneira para demonstrar alguma coisa. Se fosse para demonstrar o significado de turmalina, o prédio remeteria à ser a falsa jóia, ou melhor, a jóia de menor valor. Ainda tratando-se de alguém que conhece a poesia da história de Minas Gerais, essa pedra está envolvida na história das bandeiras do século XVII, expedições formadas sobretudo por paulistas que empenhavam-se em concontrar pedras e metais preciosos no Brasil, sobretudo nas latitudes correspondentes à exploração da prata em Potosi, na Bolívia, onde os espanhóis haviam tido êxito nesse propósito.
Estimulado pelas promessas de prêmios e de honrarias(títulos de nobreza), o bandeirante Fernão Dias, famoso apresador de índios, partiu de São Paulo, em 1674, à procura de prata e esmeraldas. Durante sete anos, sua bandeira percorreu os sertões mineiros, partindo de São Paulo à cabeceira do Rio das Velhas até a região do Serro Frio.
Conhecido como o "caçador de esmeraldas", Dias foi responsavel pelo estabelecimento de vários arraiais, desbravando verdadeiramente regiões que não eram conhecidas por europeus.
Sua bandeira, entretanto, não viveu momentos sempre gloriosos. Composta por seu filho Garcia Rodrigues Pais, Matias Cardoso de Almeida, seu genro, Manuel Borba Gato e seu filho bastardo, José Dias Pais, padeceu de um incidente de insurreição levantado por esse último, que acusado de traição, foi condenado à morte e enforcado por seus companheiros.
Imaginando ter encontrado esmeraldas, a bandeira regressa e antes dela chega a notícia do seu êxito. Fernão Dias morre mesmo acreditando ter encontrado esmeraldas, mas na verdade tratava-se de turmalinas, gemas que quase não tem valor.
A saga deste célebre bandeirante paulista talvez tenha sido o motivo do batismo desse edifício como "Turmalinas", remetendo ao fato de ser uma jóia, sim, mas uma jóia de valor menor, que não merece tanto apego quanto parece à primeira vista.
Se a idéia foi essa, não deixa de soar estranho morar num lugar que tenha esse espírito. Como se respondesse à alguém que pergunta: "moro nas 'Turmalinas', aquele edifício que parece uma esmeralda, mas é só uma gema de menor valor". Acho quase impossível alguém responder isso, na verdade, mas se eu morasse lá e alguém me perguntasse, eu iria sempre pensar nessa resposta e seria dificílimo responder: "moro nas "Turmalinas", aquele edifício em frente à praça de São Mateus".
Mas o que parece no fim das contas é que estou abstraindo demais, talvez porque seja um entusiasta da saga de Fernão Dias, talvez por sempre procurar sentido nos nomes das coisas, o mais razoável é pensar que a idéia desse nome ao edifício foi quase ao acaso, o batizador, por misteriosas e pessoais razões, gosta desse nome, quando muito de turmalinas, e achou que seria bastante e suficiente esse nome e essa é a melhor das apostas.
Da minha parte, entretanto, nunca moraria nesse prédio.