terça-feira, fevereiro 15, 2005

Era uma vez na América

Ato adiado por muitas vezes, ontem finalmente pude assistir ao mais recente trabalho do diretor Michael Moore, o documentário "Farenheit 11 de setembro".
Já tinha assistido a outros trabalhos de Moore, como "Roger e eu" que na minha opinião é seu melhor filme até hoje, e conheço sua perspicácia, obstinação e sarcasmo. Michael Moore é um homem idealista e inteligente, que transplanta para sua câmera exatamente o que vai em sua cabeça e suas idéias não podem ser consideradas tão radicais como apregoam seus opositores, consideraria de outra maneira: sua ironia irrita as vítimas que em geral são poderosas.
Em "Farenheit..." encontramos os mesmos ingredientes de antes e como sempre ótimos resultados. A administração de George Bush em cheque e sua atitude frente aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 são objeto de um documentário que procura demonstrar desde a falácia deprimente das eleições presidenciais americanas de 2000 até os rumores anteriores às eleições de 2004, em tendências claras de impedir a eleição (já que da primeira vez não foi eleito) de George Bush.
No entremeio Moore procura demonstrar a inépcia do governo americano em prevenir os ataques, a fraqueza do congresso para investigar os atentados assim como analisar o bizarríssimo Decreto Patriótico que suprimiu por um período de tempo direitos civis dos cidadãos americanos. Nesse trecho um congressita é entrevistado e depois de chamar Moore de "meu filho" afirma que ele e seus colegas nunca lêem as propostas de lei. As guerras no Afeganistão e Iraque ganham relevo, principalmente quando Moore questiona as ligações da família Bush com as famílias real da Arábia Saudita e com a família Bin Laden, no mínimo dignas de desconfiança, face às provas demonstradas com habilidade por Moore. As ligações das corporações americanas ligadas ao governo Bush com os gastos governamentais no Iraque são largamente exploradas como mais um argumento para demonstrar a falta de moralidade em comercializar à custa de vidas de civis inocentes. Inclusive outra cena chocante é uma reunião de grandes empresas americanas reunidas para discutir como poderiam tirar o máximo de proveito possível do conflito. O fim do documentário tem um clima lacônico sobre a então possível eleição de Bush como presidente em 2004 e se o propósito de Moore foi deixar todos se sentindo idiotas por aquilo estar acontecendo ele conseguiu com louvor.
Inevitável ficar com a impressão de que os Estados Unidos não são mais os Estados Unidos, bem deixe-me ser mais claro. A América que eu sempre conheci era um país determinado e unido na fé cristã e no amor pela excelência e produtividade. Estudar a história americana foi como estudar a aplicação mais genuína de todos os mais profundos valores da civilização ocidental e analisar suas vitórias foi como analisar a única conseqüência possível para uma empresa plena de força, inteligência e virtude.
A América de George Bush é uma América transfigurada, mutilada de seus valores mais fundos. O golpe antidemocrático dado por Bush foi só o início de uma catástrofe em série que vem atingindo o espírito americano manchando-o de vergonha. O ataque ao Iraque sem a aval da Organização das Nações Unidas foi uma atitude de prepotência e arrogância que colide frontalmente com os ideais americanos de liberdade e obediência às leis como sustentáculos de uma nação ordeira e soberana.
Os cacos que sobraram da América, e sobre os quais tripudiam o presidente Bush e sua equipe de gananciosos alienados, perguntam-se atônitos: "o que vem agora?" Enquanto isso, a grande massa de ignorantes funcionais que o sistema americano de ensino produz continua a balançar sistematicamente a cabeça em prol do que chama de "interesse nacional", mas que não passa de interesses particulares.
Os fundadores dos Estados Unidos, homens que realmente pegaram em armas para defender o que acreditavam e não ficaram atônitos sem saber o que fazer num momento de agressão externa, como o senhor George Bush quando dos ataques terroristas, esses vomitariam de nojo se pudessem em que se tornou o país que um dia sonharam e para o qual dedicaram suas vidas, diga-se de passagem, plenamente honradas e dignas de ter a memória reverenciada.