quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Taxistas

Hoje almocei no centro da cidade, indo e voltando de táxi. Na ida vimos que nosso restaurante combinado, o Fazendinha, estava fechado, decepção geral, já que a comida é excelente e seria dia de variar nos ambientes de pasto: celebramos hoje a folga do carnaval. Não se fazendo de rogado, o taxista nos deixou na esquina da rua Espírito Santo com a avenida Rio Branco e ainda desejou um bom almoço. Muito simpático esse senhor.
Fiquei pensando de onde vinha para ter tão bom humor, nada típico à sua profissão. Normalmente os taxistas são ríspidos e não raro mal educados, detêm entre alguns a fama de golpistas, já que aproveitam-se dos forasteiros fazendo percursos mais longos e encarecendo conseqüentemente a corrida, mas a fama não é justa, já que há muitos que são gentis e honestos, o fato é que os maus acabam aparecendo mais e fazendo a imagem pública da profissão, como acontece com tantos outros ramos de labuta.
Há alguns anos houve uma onde de violência contra taxistas. Eu mesmo assisti a uma audiência judicial em que o réu havia assaltado um taxista, há 2 anos. Um crime covarde, diga-se de passagem, já que o pobre homem tira o seu sustento dessa vigília de madrugada em busca de umas poucas corridas. Na verdade esse tipo de exposição que o taxista está sujeito mostra como esses trabalhadores são desfavorecidos. Muitos deles são mesmo empregados, não são donos do carro nem da permissão municipal, ou seja, ganham contado o salário. Além disso tem de agüentar um novo patrão a cada 15 minutos, algo que não deve ser nada agradável de todo. Ao menos o pagamento também é recebido a cada 15 minutos, boa vantagem no fim das contas.
Depois do almoço, novamente a bordo de taxi, voltamos ao escritório. Desta vez fui no banco da frente e fiz questão de puxar um assunto com o taxista. Perguntei sobre o tempo que tinha na profissão e se o taxi era seu. Secamente respondeu: "desde 1980... sim é meu." Na precisão de suas respostas, vislumbra-se esses 25 anos tentando ser simpático e recebendo no mínimo um sorriso amarelo. Não vale mesmo dar murro em ponta de faca, como diz o povo. Assim, o válido é ser educado, sem ser expansivo.
Quando eu mencionei sobre o perigo nas noites, sobre a violência a qual estão expostos ele mudou de relance a expressão do rosto, tirou uma das mãos do volante e passou pelo rosto a partir da testa: "sim, são covardes, fingem-se de clientes, pedem corrida para um lugar remoto, roubam o motorista, às vezes o dinheiro de um dia inteiro de trabalho..." fez uma pausa e prosseguiu com mais ímpeto: "mas assim ainda vale, ruim é quando são brutos, agridem ou matam para roubar o carro, esses são piores, psicopatas, os carros de madrugada são populares e nem têm tanto valor, e para que matar se ninguém reage?" terminou indignado. Respondi apenas "sim, o senhor tem toda razão." Acho que todos ficaram pensando sobre aquilo, ele mesmo revelou em seguida que trabalhou alguns anos à noite e que com essa onda de violência contra sua classe, alguns colegas morreram e muitos foram assaltados.
Depois de mais uns 10 minutos estávamos de frente para a fachada do prédio onde fica o escritório, em silêncio, pagou-se pela corrida e saímos todos agradecendo a um honesto trabalhador brasileiro.